18/abr/2016, 10h44min (por Moisés Mendes)
Golpistas, recolham suas indignações seletivas e suas panelas. O país está em paz. Encaminhou-se a consumação do golpe. Guardem o que sobra da brutalização das falas e dos gestos para outros momentos, porque daqui a alguns anos teremos outro golpe, e depois mais outro, até o fim dos tempos.
Está tudo dominado. Ninguém mais precisa ter medo das cotas, do ProUni e das fortunas que mantêm milhões de vagabundos viciados em Bolsa Família. Salvaram-se reputações, interésses e brioches. Recolham o medo que um dia sentiram do avanço do comunismo, da nova classe média e do filho da empregada que vai virar doutor e pode ter a petulância de querer tratar dos nossos reumatismos.
A família brasileira, tão exaltada nos discursos do golpe na Câmara, estará em breve sob a liderança do grande chalaça. O líder Michel Temer foi o que sobrou para a direita enrustida. A direita que andou de mãos dadas com Bolsonaro e com Zé Agripino (onde andam Zé Agripino e Aloysio Nunes Ferreira, se já podem sair dos esconderijos?) tem agora a quem seguir.
A direita, tão agarrada a lições bíblicas _ citadas à exaustão na falação na Câmara _, passou trabalho mas venceu, depois de abandonar Aécio e os tucanos avariados pelas pesquisas sobre as eleições de 2018. Vai seguir a orientação do autor de uma carta infantil com queixas de que Dilma nunca olhou direto nos seus olhos e nunca ligou para suas carências afetivas.
Mas o medíocre Michel Temer, Cunha e seus asseclas desmoralizaram o jornalismo brasileiro. Nunca se viu tantos jornalistas sob a saia de golpistas. Vergonhosamente, nunca se viu tão pouco jornalismo.
Desde ontem, os golpistas e seus cúmplices (inclusive os camuflados) podem acalmar suas almas. Já podem até jogar Eduardo Cunha ao mar. Podem dormir em paz porque o Brasil e a Lei de Responsabilidade Fiscal, sem pedaladas, estarão daqui a pouco sob a austeridade de Michel Temer e de Armínio Fraga.
Liberais, defensores de normas e leis que os favoreçam, adoradores do livre mercado que ontem votaram em nome de Deus e da família, durmam em paz. Indignem-se com a corrupção e continuem aplaudindo corruptos impunes. Economizem os discursos duplos, as duas caras, a falsa defesa da democracia. Cuidem bem da fala dos seus oráculos adesistas.
Comemorem, abram champanhe, reabram contas secretas, voltem a superfaturar metrôs, roubem a merenda das crianças paulistas e enterrem a Lava-Jato antes que chegue mais perto das suas casas, dos seus governos e dos seus ninhos. Peçam para que os delatores parem de delatar Aécio Neves. Leiam a Constituição onde lhes interessa, declamem o Hino, vistam a camiseta da Seleção dos 7 a 1.
Percorram o Brasil com Janaína Paschoal em sessões de exorcismo. Gritem o nome do procurador-geral da República, de Gilmar Mendes e do juiz Moro. Elejam o japonês da Federal como o mais votado deputado brasileiro de todos os tempos. Reexaminem com cuidado, sabedoria e critério a Previdência Social, o SUS, o FGTS, os direitos trabalhistas. Façam o arrocho sem parcimônia.
O governo será de Michel Temer, do Lobão, do Paulinho da Força, do Caiado, do Abel das Galinhas, dos investidores estrangeiros e dos seguidores dos patos da Fiesp. Eles conseguiram o que velhos protagonistas e figurantes da velha direita do golpe que derrubou Jango nunca imaginaram. A nova direita venceu e tomará o poder sem votos, sem farda e sem tanques.
Golpistas sobreviventes de 64 devem estar espantados com o que viram ontem, enquanto Eduardo Cunha votava pelo golpe e rogava aos céus para que Deus tenha misericórdia do Brasil. Com tanta proteção, não há quem possa conspirar contra a família brasileira.
o.O.o
Moisés Mendes é jornalista (texto enviado por e-mail a amigos).
O Jornal Nacional de ontem recebe com méritos o título acima. Num primeiro momento, criticou veementemente a viagem da presidenta Dilma Rousseff à ONU. A presidente não havia embarcado no avião e já criticavam o discurso que ela possivelmente faria, como se fossem profetas do impeachment.
Num ato estranho, ministros do STF davam entrevista criticando o suposto discurso que a presidente que ainda não havia viajado ainda nem fez, como se fossem deputados ou senadores da oposição, em vez de magistrados da mais alta instância do Poder Judiciário.
E, na mesma medida em que o JN desqualificava a presidente, cobria favoravelmente a articulação de seu vice, Michel Temer, na formação do "novo governo". Detalhe: em dado momento, a câmera focava a janela do apartamento de Temer em SP, mirando uma foto sua sorrindo, com o logo do PMDB ao fundo. Ou seja, estavam legitimando como alternativa o governo que ainda não existe, ao mesmo tempo que criticavam o discurso de quem ainda nem havia decolado. Parecia que Temer, em vez de estar com 3% nas recentes pesquisas presidenciais, fosse um presidente eleito formando seu futuro governo.
Horário eleitoral do impechment. O governo está perdendo a opinião pública há tempos, pois não tem possibilidade de fazer o contraditório. E as empresas de comunicação, enquanto isso, apoiam a alternativa ao governo: um governo que priorizará o mercado e o capital, colocando a conta da crise econômica atual nas costas do trabalho e dos assalariados do setor privado e público. Os sinais já estão escancarados no ar. As pessoas apenas não estão percebendo. Todavia, a realidade costuma ser cruel com os ingênuos.
Acima, capa da última edição da revista IstoÉ com a presidente Dilma Rousseff, onde esta é comparada com "Maria, a Louca". Abaixo, Janaína Paschoal, advogada, doutora em Direito Penal e professora da USP, signtária do processo de impeachment, em discurso recente em prol do mesmo.
A capa da revista é baseada em foto da presidenta comemorando um gol num jogo da selação brasileira (segunda foto). A foto da advogada foi tirada durante o referido ato (ver o discurso no link abaixo).
Como cantou o Caetano Veloso, "de perto ninguém é normal".
De minha parte, sem comentários. Creio que os fatos falam por si, nesse caso. Tirem suas próprias conclusões.
ASSISTA AQUI o discurso de Janaína Paschoal na USP: https://www.youtube.com/watch?v=aGAJrcjWrdM
- "Porque buscais o Vivente entre os mortos? Não está aqui, mas ressuscitou."
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A SEMANA SANTA é vida! Comçeça no Domingo de Ramos e termina no Domingo de Páscoa, celebrando a vida, a esperança e o renascimento. O resumo dia a dia da mesma que publiquei aqui desde o dia 21, domingo, foi baseado primariamente no livro "Jesus - A Vida Completa, de Juanribe Pagliarin (SP, Bless Press, 35ª ed, 2015)" e secundariamente na "Bíblia de Jerusalém (Paulus Editora, 2002)".
Sacerdotes e fariseus a Pilatos:
- "Senhor, lembramo-nos de que aquele engandor, quando ainda em vida, afirmou: Depois de três dias ressuscitarei. Manda, pois, que o sepulcro seja guardado com segurança (...), para não susceder que, vindo os discípulos, o furtem e digam ao povo: Ressuscitou dos mortos".