Cerca de 10 mil pessoas, segundo os organizadores, caminharam ontem pelas ruas do Centro Histórico e da Cidade Baixa, em Porto Alegre, contra o impeachment e as reformas da Previdência e da CLT, sob o brado: Fora Temer!
Li no Facebook uma postagem essa semana que dizia: "Quem não lê, fica sabendo pelos outros". Ok. Entretanto, muitas vezes a gente lê e também fica sabendo pelos outros, pois a informação escrita não corresponde à verdade ou corresponde apenas parcialmente. Logo, somente quem participa das coisas pode ficar realmente inteirado acerca do que aconteceu. Nesses atos públicos, isso vale mais ainda.
No ato Fora Temer de ontem em Porto Alegre, na Esquina Democrática, lemos muito pouco nos jornais de hoje: no Correio do Povo, apenas uma notinha na coluna de Taline Opptiz fala em "milhares de pessoas presentes". Na ZH: a coluna de Rosane de Oliveira coloca que o ato foi menor que o de sexta-feira passada, quando da visita da presidenta Dilma ao mesmo local; e, em matéria na editoria de política, informa que a BM estimou que mil pessoas estavam presentes no local. Informações muito parciais.
Na verdade, o evento de ontem reuniu mais que as 10 mil pessoas presentes na visita de Dilma. Logo, calculo algo como umas 12 mil pessoas no protesto, quando de seu pico, após a primeira caminhada e retorno à Esquina Democrática, de onde, posteriormente, o público saiu em direção à Avenida João Pessoa, após subir a Borges de Medeiros. As estimativas da BM e de Rosane só podem ter sido calcadas quando o ato estava em seu início, lá pelas 18 horas. Daí sim.
Dia 31 de março, uma manifestação na Esquina Democrática contra o impeachment reuniu, conforme a BM, 18 mil pessoas. Como fui nos três eventos, posso comparar os números e o volume de público presente em cada um, fazendo estimativas próprias. Logo, muito bom o público na noite de ontem, levando-se em conta que se realizou uma caminhada de duas horas por ruas e avendas do Centro e Cidade Baixa numa tempratura abaixo de 5 graus.
Claro, nem se compara, em termos de público, com a manifestação de 13 de março a favor do impeachment na mesma cidade, da ordem de 100 mil pessoas. Aquela pudemos aconpanhar pela TV, tanto ao vivo quanto em fartas matérias posteriormente, coisa que as grandes empresas de comunicação não estão fazendo agora, em relação aos atos contra Temer. Desta forma, diferentemente daquela, só indo às manifestações de hoje para se ter uma percepção exata do que está acontecendo, sem comer pela boca ou pelas mãos dos outros.
Foto acima: montagem sobre o quadro "A Liberdade Guiando o Povo" (1830), de Eugène Delacroix
Foto: Amauri Cairuga
Foto: Correio do Povo Online / Fabiano Amaral /
Agora é o presidente interino, Michel Temer, e sua aliança PMDB - PSDB que passa a ser fustigado pelas ruas, hoje, em todo o Brasil. Óbvio que não são as mesmas pessoas que pediam o impechment de Dilma Rousseff. Essas estão constrangidas por um governo que, nem bem completou um mês, já se afoga na corrupção que as ruas combatiam: 65% das pessoas, segundo a pesquisa do MDA/CNT do dia 8 passado, acham que a corrupção no governo Temer será igual ou pior que antes. Com razão.
Se antes eram basicamente eleitores de Aécio Nevez de classe média, agora são petistas e membros da Frente Popular que puxam o cordão. Contrariedade com as reformas da Previdência e da CLT é, ao lado do combate ao "golpeachment", a tônica dos protestos.
Ao contrário das grandes manifestações anteriores, onde parcela da população aderiu, agora o povo, mais desiludido e desconfiado do que nunca, fica apático, mesmo que o endurecimento do ajuste fiscal proposto pelo governo interino o tenha como alvo principal.
Imagem: TV Poeira
Não é todo o dia que se pode ver a história passar à sua frente. Cerca de 10 mil pessoas foraqm à Esquina Democrática ouvir a presidente afastada. Todavia, não deu capa dos principais jornais gaúchos nem na sexta nem no sábado. Sintomático.
Triiiimmmm triiiimmmm triiiiimmmm
- Alô.
- Alô Marilyn.
- Oi João, fala.
- Happy birthday to you...
- Ah, obrigado. Porque tu não veio ontem?
- Ah, tava de serviço né. Como foi a comemoração?
- Foi muito boa, claro. Não é todo mundo que chega lembrada aos 90.
- E inteiraça! Uau syl!
- Abobado.
- Eh eh eh eh eh eh
Esta manhã estive no IEE Assis Chataubriand, em Charqueadas, acompanhando a palestra que o músico Duda Calvin fez aos alunos do Movimento OcupAssis e aos professores estaduais em greve (foto acima).
Duda, membro da banda de punk Tequila Baby, falou de como é viver de arte e a situação da cultura em nosso país, inclusive comentando sobre a recente polêmica da extinção do Ministério da Cultura e da importância que o mesmo tem para a sociedade brasileira. Muito boa a palaestra dele, acompanhado pelo músico Diego Darkie.
Falou de como saiu de Charqueadas para Porto Alegre e tentou a vida na cena do rock gaúcho, conciliando sua busca por espaço artístico com sua atividade de professor de história, profissão que, mais tarde, abandonou para seguir exclusivamente a de músico. No início da carreira, gravavam fitas cassete com seu trabalho e vendiam à dois reais cada para, assim, comprar mais fitas e seguir a distribuição. Chegaram a vender 2.000 fitas.
Interessante ouvir ele discorrer acerca da relação dos músicos com as gravadoras desde 1994, ano em que a Tequila lançou seu primeiro disco, que vendeu 15 mil cópias à época. Fez um histórico da mudança do formato de LP de vinil para CD, do quanto cada músico ganha por CD vendido e do quanto custa cada CD para as gravadoras: de 35 à 45 centavos é o que um artista percebe por CD vendido (Roberto Carlos é o que mais ganha com direito autoral no Brasil) que, por sua vez, custa cerca de 90 centavos para ser produzido em uma fábrica. O custo de 20 a 25 reais de cada CD na loja, portanto, tem embutido vários outros custos, como gravação (em média, 600 horas de estúdio ao custo de 20 reais a hora), mixagem (regulagem do volume dos instrumentos e vozes gravadas), masterização (regulagem das frquências sonoras do CD) e divulgação, etc.
Calvin lembrou que em 1999, ao lançar seu segundo CD (que vendeu 25 mil cópias), de ínício nada aconteceu. Somente em dezembro daquele ano, quando uma pessoa da gravadora resolveu apoiar o trabalho da banda e levá-lo às rádios para divulgar, foi que a coisa embalou. Segundo o artista, hoje as gravadoras (que começaram a falir a partir de 2005), o formato CD e as rádios perderam muito de sua função, eis que o advento da internet alterou toda a relação produção-distribuição-divulgação de música, que passou a circular livre e gratuitamente pelas redes socias virtuais. Além das rádios, outras mídias clássicas, como a impressa, também estão diminuindo sua inserção junto ao publico, ficando apenas a TV como, nesse espaço midiático tradicional, ainda relevante junto ao público, conforme Kalvin.
Duda cantou algumas canções de sua banda acompanhado por Diego Darkie ao violão, sendo que este também é músico com trabalho autoral e, inclusive, apresentou duas de suas composições (muito boas, por sinal) para os presentes.
Falando com professores e alunos deu para ver que o movimento grevista na escola possui uma adesão de cerca de 70% do corpo docente e que o OcupAssis é um movimento doa alunos em apoio à greve, embora não esteja realizando uma ocupação ao molde tradicional, como ocorre em outros estabelecimentos de ensino gaúchos e brasileiros atualmente, trancando o acesso à escola e paralizando as aulas. Não há notícias de outro movimento ou greve nas demais escolas estaduais da cidade.
Fico pensando se, em muito, essa falta de uma adesão mais significativa às greves do magistério não seja a causa de a categoria estar tão desvalorizada do ponto de vista salarial? Todavia, essa não é a lógica que vemos no Assis, onde alunos e professores (foto abaixo) estão unidos em torno de um objetivo comum: valorização da educação e dos profissionais que nela trabalham, coisas que nunca andarão separadas.
O Movimento OcupAssis vem realizando diversas atividades, como a palestra de Duda, no Galpão do Assis. Mais informações na página do Facebook do movimento: https://www.facebook.com/ocupAssis/?pnref=story