CHARQUEADAS: A Banca do Povo, desde 1975 em atividade na Avenida 1º de Maio, em Charqueadas, encerrou atividades hoje. Propriedade da sra Loivaci Lima, vinha sendo tocada por sua filha Nedi nos últimos meses, em virtude dos problemas de saúde de sua mãe. A banca era a única na cidade. Fez uma grande história. Fará uma falta enorme.
Cinquentaça! Linda! Parabéns!
Finalmente, terminou o sofrimento dos colorados: ao empatar em 1x1 com o Fluminense no estádio do América carioca, o Internacional caiu com as próprias pernas no Campeonato Brasileiro. Sport 2x0 Figueirense e Vitória 1x2 Palmeiras não influenciaram em nada, visto que o colorado gaúcho não se ajudou.
Mas, pior que no campo, foi no extracampo que a queda foi muito feia: declarações infelizes em sequência, primeiro do vice de futebol Fernando Carvalho e, depois, dos jogadores e do presidente, detonaram a imagem do clube no pais, depois da queda do avião da Chapecoense. Por fim, até uma alegação da CBF de falsificação de emails numa ação do clube contra o Vitória no STJD, deu o epílogo funesto.
E, pior dos piores, no mesmo ano e no mesmo mês que o rival, o Grêmio, ganha a Copa do Brasil pela quinta vez. Entretanto, o clube e a sua torcida são maiores que tudo isso. Faz parte. Tudo passa.
A desistência de uma pessoa em ir à decisão de ontem permitiu que eu fosse à final da Copa do Brasil na Arena Grêmio. Quem gosta de futebol sabe que nada, nesse esporte, supera a ida a um estádio para ver um jogo, ainda mais se seu time está decidindo um campeonato em casa.
Para quem vai na Arena, a primeira coisa que constrasta com a magnitude desta é a comunidade que a cerca. Um palácio construído à beira de uma vila pobre. O constraste das pessoas, a maioria, muito provavelmente, de classe média (na faixa dos 16 aos 30 anos), descendo dos seus ônibus e carros e passando pelos moradores é total: roupas, aspectos corporais. Tudo.
Os moradores aproveitam a localização para lucrar como podem: estacionamento (carros de luxo na garagem de casas humildes), venda de bebidas e lanches, telões (muitas pessoas vão ao jogo sem ingresso, só para ficar no entorno do estádio), em suma, um comércio popular vivendo da torcida gremista.
Você adentra a Arena e está noutro mundo. Uma mescla de palácio e shopping center do futebol. Tudo funciona, tudo está acessível, desde que tenha o $ para consumir o ofertado em preços pra lá de caros, em comparação com os do comércio popular, que, por sua vez, estão igualmente um pouco acima dos de mercado.
A torcida, com seus cânticos, cores e animação é sempre um espetáculo à parte, nem precisa dizer. Na goleira que fica atrás da Geral, muitas tiras de papel eram jogadas no campo, atrapalhando um pouco, mas sem maiores problemas para o andamento da partida. Um cântico eu achei muito legal: "Vamo vaMO Tricolor / Hojem eu VIM te apoiar / Para te ver campeão / Para te ver ganhar". Toda a Arena o entoava.
No jogo, o Grêmio controla o Atlético, administrando a vantagem de 3x1 obtida em Minas. O Galo não consegue romper a linha defensiva do Tricolor e levar perigo ao goleiro gremista. E esse é um resumo do jogo no primeiro e em boa parte do segundo tempo, exceto por um gol incrível perdido por Éverton, após uma passe genial do meia Douglas. O Grêmio foi quem, no contra-ataque, levou mais perigo.
E assim foi até os 43 minutos, quanto Bolanhos fez um gol e liquidou a fatura. O Galo teve ainda força para fazer um gol muito raro e belo, de Cazares (foto acima), já nos descontos, com um chute por cobertura do campo de defesa atleticano. Esse tento foi o grande momento do jogo e, com certeza, o gol mais belo de 2016 e um dos mais belos de todos os tempos. Muita gente no estádio não viu o gol, eis que já estavam comemorando o título, alheias ao que ainda acontecia em campo.
Após o gol gremista, na Geral começaram a se ver os belos sinalizadores em cores variadas, que lançaram fumaça no campo, sendo que o juiz parou o jogo por alguns breves instantes. O locutor do estádio pedia: "Torcida gremista, não prejudique o Grêmio".
Fora do campo, chamou a atenção na homenagem às vítimas da tragédia da Chapecoense quando, outro fato raro, o minuto de silêncio foi cumprido à risca pelos 55.337 presentes que lotaram o estádio. Apenas o toque de clarin do policial militar soava pelos autofalantes da Arena.
Só tinha presenciado coisa parecida em Grêmio 3x1 Nacional de Medelin, no estádio Olímpico, no primeiro jogo da final da Libertadores de 1995, quando os colombianos marcaram seu gol quase no fim da partida e, por uns dois ou três segundos, a torcida gremista silenciou completamente. Recordo, inclusive, que um efeito sonoro muito peculiar ocorre quando isso acontece: o alarido do público vai diminuíndo até sumir após um som final muito grave e retumbante. Até assuta. Nunca esqueci disso.
Outro detalhe: foi o público record na Arena. E isso leva a fazer outras comparações. O record de público no Olímpico foi na partida Grêmio 0x1 Ponte Preta, em 26 de abril de 1981, na semifinal do Brasileiro no qual o Grêmio foi campeão: 98.471 pessoas, quase o dobro do público de ontem. Em 1981, a população brasileira era de 124.6 milhões; hoje, 200.4 milhões. Isso ilustra bem a transição do futebol de esporte popular para de classe média, com estádios mais confortáveis, com ingressos mais caros e para um público bem menor. Na final de ontem, inclusive, só sócios do Grêmio compareceram. Não houve venda de ingresso para o torcedor não associado.
Outra coisa que chamou a atenção foi a lamentável briga entre alguns jogadores ao final da partida. Mesmo com todas as manifestações de luto antes do apito final, o "espírito" do futebol não muda, quando a "normalidade" se restabelece. Fato.
Mias: um confronto entre seguranças e torcedores da Geral durante a premiação. Um segurança tentava bater nas pessoas que estavam junto à grade, não sei porque motivo, enquanto esses, por sua vez, o afastavam com as bandeiras. Outros seguranças usavam extintores de incêndio, dirigindo os jatos sobre o público. À distãncia, pareceu-me que a atitude do primeiro segurança foi indevida, eis que havia um grande contingente da tropa de choque da BM guardando o local, impedindo qualquer tentativa de invasão do campo.
Na saída da Arena, o mesmo constrastre de antes. Para minha surpresa, o pessoal já vendia um poster do time do Grêmio Campeão, com a foto do jogo! Cinco reias cada. Os caras não davam conta de vender. Pedi para ver um, fui comprar, o vendedor deixou o poster comigo e disse que ia ali num grupo e já voltava. A venda era tanta que ele esqueceu de mim. Veio o nosso ônibus e embarquei.
Na volta, pensava: não é mais a mesma coisa de antes, quando se era mais jovem e o Grêmio ainda não tinha a gama de títulos que hoje possui, a emoção de comemorar um título em casa. Olhava a euforia nos jovens torcedores emocionados e concluia que, na vida, tudo passa. Para eles, ainda bem, é o presente em sua plenitude. Aproveitem, meus caros.
Ontem fui no velório de um amigo, pela manhã, bem cedo. Ele era mais velho que eu, 63 anos de idade. Um cara que foi legal comigo, sempre me respeitou e tratou bem, com consideração.
Ele ali, esticado no caixão, e eu recordando algumas passagerns que compartilhamos, o tempo que ficamos sem nos ver e o reencontro numa dessas curvas da vida.
Soube por uma parente em comum que ele estava mal. Câncer no pulmão. Maldito cigarro! No cortejo para a sepultura, percebo que um jovem, o último à direita das seis pessoas que conduziam seu esquife, joga algo no chão. Um toco de cigarro, vejam só!
Os pedreiros começam a colocar as lajes para fechar o sepulcro e, na última, sua simpática e bonita filha começa a chorar e procura abrigo no peito do marido, fragilizada. Sua demonstração de dor e sofrimento me comove. Vou embora.
Chamo o táxi pelo celular, que me pega no portão de saída do cemitério. Ele me deixa no serviço, para mais uma jornada de labuta sob a luz do sol nesse belo dia primaveril de final de novembro.
O céu está lindo. Encho de ar os pulmões.
Viver é sobreviver.