João Adolfo Guerreiro
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A caderneta centenária do Dia dos Pais

 

O filho e o neto disseram que não tinham ouvido falar dela, ainda. Então o ancião dos Rocha, na festinha do Dia dos Pais de ontem, disse pra filha mais velha:

- Traz lá a cadernetinha aquela que eu te dei e que foi do meu pai, pra mostrar pro pessoal.

 

Trouxe a caderneta pequena (fotos acima e abaixo), 24 páginas, comprada na Livraria do Globo, já centenária, que seu Cecílio Rocha deixou para o filho - o ancião. Em um estado de conservação que demonstra ter presenciado as durezas do cotidiano do então militar do Exército - que, anos depois, viria para Charqueadas trabalhar para o Cadem nas balanças do carvão que vinha em trem, de Arroio dos Ratos para as chatas no rio Jacuí -, apresentava uma letra bonita escrita à bico de pena, onde treze canções, poemas e quadras foram registrados.

 

"Nesse mundo não existe

Nem nessa terra nasceu

Uma ingrata como tu

Um infeliz como eu"

Porto Alegre, 3 - 7 - 923

Cecílio Rocha

 

"Coração que dois adorem

Que nelle não tenho fé

Não quero amor partido

Que o meu interinho é"

Cecílio Rocha

 

"De longe tambem se ama

E tambem se tem amizade

E tambem guarda-se no peito

Uma eterna saudades"

Cruz Alta

 

Logo na contracapa, traz um selo colorido de Assis Brasil como candidato a Presidente do Estado (foto abaixo), de 1922. Curioso, pois Cecílio, lotado no Exército em Santa Maria, participou da Revolução Federalista de 1923, obviamente pelo lado do presidente Borges de Medeiros. Aliás, as canções presentes são todas militares, não se sabe se de sua autoria ou se eram utilizadas pela tropa. Uma delas, intitulada Canção Patriótica, completa hoje exatamente 100 anos que foi datada na caderneta, ou seja, "Santa Maria, 12 - 8 - 924". A transcrevemos literalmente, com a grafia original:

 

Mocidade brasileira

Alma forte e varonil

Corremos todos fileiras

Empunhemos o fuzil

 

(Côro)

Salve! Patria berço amado

Juremos em teu altar

Pelos louros do passado

Novo louros te offertar

Salve! Patria Brasileira

Salve! Estrella da Bandeira

 

Tens nobre civismo, povo

Sob o ceu da Santa Cruz

Em explusões sempre novo

Abre veredas de luz

Que neste berço fecundo

Tocando as chuvas e soes

Saibamos mostrar ao mundo

que somos filhos de Heróes.

 

Côro

 

Si amanham, sorgir a guerra

Para a luta! sem temor

No mares, campo e cerra

Mostremo nosso valor

Corramos do Sul a Norte

Coheços seu vacilar

A morte, que importa a morte

Quando a patria nos chamar.

 

Coro"

 

Cecílio Rocha, natural de Porto Alegre, nascido em fevereiro de 1902 e falecido em julho de 1976, é nome de rua em Charqueadas. Seus neto e bisneto, agora, conhecem a caderneta centenária da família.

 

Uma boa semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, ajudem os atingidos pela enchente, vivam e fiquem com Deus.

 

Leia Mais: Cecílio e o broche perdido

 

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 12/08/2024
Alterado em 13/08/2024
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