No sábado, como já escrevi na sexta-feira (1), fui à Arena ver o Grêmio ser heptacampeão levando na lembrança gremistas charqueadenses que conheci e que já não mais estão neste plano físico: meu pai, tio Ivã de Souza, amigo Afre Rodrigues, dona Loivaci da Banca do Povo, seu Aberildo, companheiro Binidi "Niga" Cezarino, seu Zé do Grêmio, Alveri "Goiaba" do Consulado, confrade Nilo Tejada e Sérgio Rocha. Com todos esses conversava sobre futebol ou interagia, com alguns assistindo jogos juntos pela TV ou mesmo indo no estádio - no busão de linha do Vitória, com seu Aberildo. Ótimas lembranças, mas bah.
Todos esses bem mais velhos do que eu, pessoas que viram o Hepta de 1968, então um feito inédito do RS (o Inter o superaria logo em seguida, com o Octa de 1969/76). O Afre vivia falando do Ortunho e do João Severiano. Alguns, como dona Loivaci, foram na inauguração do Olímpico, em 1954! Contudo, eles, sábado, não viram o hepta de 2024, mas estavam lá, comigo, de carona nas minhas memórias afetivas e futebolísticas. O João Severiano também, e bem vivo, já octogenário, inclusive chorou ao entregar a taça ao zagueiro Pedro Geromel (2). Acho que as lágrimas de João Severiano eram por tanta gente que ele traz na lembrança em seu coração, parceiros de tantos feitos idos pelo Tricolor, que não estão mais aqui. Chorou lágrimas de alegria e emoção por todos eles, em oração. A vida é maravilhosa e aprendemos tanto com o passar dos anos nesse plano físico, da grandiosidade de nossa pequenez e da real importância das coisas e momentos, como esse hepta sábado, 55 anos (3) depois. Imagino quantas pessoas, além das 54.158 presentes, lá estavam, naquela atmosfera mental de lembranças? Se cada uma, como eu, trazia consigo dez na memória, seriam quase 550 mil (4) almas azuis e verdes irmanadas pelo futebol!
O concreto é que no sábado estava lá, com o pessoal do Consulado de Charqueadas, pois a vida e as emoções se renovam. Novas relações, antigas amizades, interação que vai dos torcedores, passando pelos atendentes da Grêmio Mania (valeu demais, Wellington!) e chegando no motorista do ônibus. Até o pessoal do bar onde a gente espera o busão pra voltar já nos conhece: "Oi, temos Coca-zero agora" - informou a guria do balcão, lembrando que eu sempre pedia e ela não tinha. Ah, o futebol, "a coisas mais importante dentre as menos importantes" (Milton Neves), a "paixão para torcedores, o trabalho para jogadores e treinadores e negócio para dirigentes e empresários" (Juremir Machado da Silva).
Grêmio Heptacampeã do Gauchão, o campeonato mais difícil do mundo: não tem preço! Vivi pra ver, "foi um privilegio estar com vocês" (Mendes Ribeiro).
Uma boa semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, vivam, heptem-se e fiquem com Deus.
Notas:
1 - Gauchão, o mais difícil: Grêmio X Juventude na Arena
2 - Pedro Geromel é o único jogador que esteve inscrito em todos os sete campeonatos vencidos, está no Grêmio desde 2014 - Kannemann está desde 2016, mas não foi inscrito em 2022 devido a uma lesão. João Severiano participou de todos os campeonatos do hepta de 1962/68, junto com o lateral-direito Altemir e o zagueiro Áureo.
3 - Grêmio 0x0 Juventude, que deu o Hepta de 1968 ao Tricolor, foi realizado em 25 de julho daquele ano, ou seja, há exatos 55 anos, 8 meses e 17 dias.
4 - Foi o terceiro maior público na história da Arena - inaugurada em 2012 -, superado por Grêmio 1x1 Atlético-MG 55.337 (Copa do Brasil 2016) e Grêmio 1x0 Lanús 55.188 (Libertadores 2017). O curioso é que multidões não ajudam muito o Imortal, pois, nos jogos realizados nos dez maiores públicos na Arena, o Tricolor venceu 2, perdeu 4 e empatou 4, fazendo 6 gols e levando 8. Estive nos três primeiros e também em Grêmio 0x2 Flamengo 52.932 (Copa do Brasil 2023), o nono maior público. Logo, considero-me pé-quente.