Perdas
Hoje faz exatamente dez anos que perdi um grande amigo (foto acima), o qual considerava como se fosse um irmão mais velho, que faleceu a 20 dias de completar 63 anos. Uma amizade que foi e é uma referência para a vida. Então, mais uma vez pensando nele, recordei da letra de uma excelente canção do Oswaldo Montenegro: "Faça uma lista de grandes amigos Quem você mais via há dez anos atrás Quantos você ainda vê todo dia? Quantos você já não encontra mais?". E refleti, a partir do que os versos ensejam, de pessoas queridas e amadas que perdi nesse período.
O meu amigo/irmão ("Você meu amigo de fé, irmão, camarada" - Roberto Carlos), eu então não supunha, seria a primeira de uma série de pessoas muito caras que deixariam esse plano físico, todas mais velhas do que eu - tínhamos exatamente 19 anos e um mês de diferença. Depois dele, no ano seguinte, pelo lado paterno, morreram um tio de 75 anos, minha madrinha e tia-avó, aos 101 e, aos 77, uma tia. Em 2015, um primo de 53 e um tio materno de 68, com duas semanas de diferença entre um falecimento e outro. Ano passado foi minha mãe (77) e meu pai (85), em setembro e dezembro. Oito pessoas insubstituíveis. Sem contar pessoas amigas e queridas que também se foram no período, como a poeta, a dona da banca e o roqueiro, todos inesquecíveis ao coração.
Quando essas pessoas extremamente referencias partem, a solidão e o desamparo são sentimentos que, parcialmente, tomam conta de teu espírito. Isso acontece por se tratar daqueles cujo amor e amizade eram sólidos, cada um porto seguro que deixou de existir. Com o avançar da idade a perda passa a ser algo presente e frequente na vida. Agora a coisa é toda com você: par para os da tua geração e referência e porto seguro para os mais novos. Não há mais a quem recorrer - ou sobraram muito poucos - quando se deseja o conselho sincero, confiável e amoroso de alguém mais experiente e vivido, só restam os exemplos e os ensinamentos que eles deixaram, como legado.
Com a pandemia, ampliando o leque da análise, as gerações atuais tiveram de lidar com a morte e a perda como nunca, desde a Gripe Espanhola (as duas guerras mundiais não envolveram o Brasil). Amigos, conhecidos. Lá no meu serviço, direta ou indiretamente ligadas à Covid-19, foram cinco colegas que por lá trabalharam, dentre eles um enfermeiro e duas enfermeiras. Muita gente para um curto período de pouco mais de dois anos, todos na casa dos cinquenta anos ou, até mesmo, abaixo disso. Dentre todos esses, mais uns dez nomes para a lista de pessoas que tu conheceu, que fizeram parte, de uma forma ou de outra, da tua vida, e cujas mortes tu lamentou bastante.
Ao pensar nessa década de ausência de meu amigo, tudo isso me veio à mente hoje, nesse dia de chuva que faz as águas do Jacuí subirem. Água lembra lágrima, mas água é também vida: pesar pelas perdas, gratidão pela vida dos que estão e pelos que recém chegaram e chegarão. Viver é sobreviver, correndo riscos calculados, e só o amor dá cor pra vida.
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