João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
Capa Meu Diário Textos Áudios Fotos Perfil Livros à Venda Livro de Visitas Contato Links
Textos
O centroavante voador

De tanta coincidência, parece que foram os deuses do futebol que marcaram para o dia depois de Vitória 0x3 Grêmio pela Copa de Brasil a data da morte de André Catimba, ontem, aos 74 anos. Morava atualmente em Salvador, onde praticamente iniciou a carreira (1) nos anos 1970 no Rubronegro Baiano. De 1977 a 1979, teve passagem consagradora pelo Tricolor Gaúcho, autor de gols históricos e, poderíamos dizer, épicos. Sobre ele e sobre eles falaremos aqui.

Fazia oito anos que o Grêmio amargava a seca de títulos. Nesse período, viu o rival Internacional ser octacampeão gaúcho e bicampeão brasileiro. Em 1976 o ponteiro direito Tarciso "Flecha Negra", desde 1973 no Grêmio, falou a famosa frase: "Não aguento mais perder para o Inter". O presidente Hélio Dourado então disse "Chega!" e começou a montar para 1977 uma equipe para recolocar o Grêmio no rumo dos títulos ganhos, não apenas dos pagos. Trouxe Telê Santana para treinar o time e jogadores como o experiente zagueiro Oberdan (Santos), o jovem ponteiro esquerdo Éder (Atlético Mineiro), o goleiro uruguaio Corbo (Peñarol e Seleção Uruguaia) e o camisa 10 Tadeu Ricci (Flamengo). Faltava um matador, e é aí que inicia a história do soteropolitano Carlos André "Catimba" Avelino de Lima na Azenha...

André Catimba chegou ao Estádio Olímpico Monumental destinado a grandes feitos, como a história o registraria. Vamos nos ater a apenas a dois deles, como já dissemos no início. Os maiores deles. Primeiramente, claro, aquele GreNal decisivo realizado em 25 de setembro de 1977, decisão do Campeonato Gaúcho - o campeonato mais difícil do mundo, como os que me leem já sabem muito bem o motivo. Numa bola literalmente brigada na defesa e depois na intermediária colorada, o lateral direito Eurico passa certeiro a bola nos pés do meio campista Yura na entrada da área e ele pifa André Catimba, que entrou em diagonal pela esquerda da defesa e, de pé direito, empurra a bola - de três-dedos, coisa de craque - para o ângulo do goleiro Benitez, que viera por baixo fechar o canto. Grêmio 1x0 Inter aos 42 minutos do primeiro tempo (2).

Não bastasse o gol histórico, que daria o título à Máquina Tricolor, Catimba decidiu ser épico e pretendeu voar na comemoração. E voou, como vocês podem ver na foto acima. O problema foi na aterrissagem, para a qual ele não estava preparado. Estatelou-se no chão e saiu de maca, ante os olhos de toda a torcida gremista no Olímpico, do cantor Gilberto Gil e do jornalista e escritor Eduardo "Peninha" Bueno, que registrou em seu livro Grêmio - Nada pode ser maior (Ediouro, 2005, p. 169) sua conversa com o tropicalista duplamente tricolor (Bahia e Grêmio):
- Oi Gil. O que está fazendo aqui? Veio cumprimentar André?
- Sim, sou amigo de André. Mas vim mesmo porque sou gremista.
- Verdade? E por que um baiano como você é gremista?
- Ora, sou gremista porque o céu é azul, a paz é branca e eu sou negro.

Não esqueço esse jogo, estava escutando no rádio com o meu pai. 1977 foi o ano em que, mesmo com a situação estando russa de tão vermelha há quase uma década, comecei a torcer pelo Grêmio, iniciando minha adesão já como pé-quente. O próximo feito a ser destacado ocorreu em 21 de março de 1979, no jogo Grêmio 2x0 Esportivo de Bento Gonçalves realizado no Olímpico. Resumo da ópera: o lateral Eurico cruzou da direita e André, no centro da área, voou e deu uma bicicleta (3), registrada na imagem acima. Golaço que foi considerado o mais bonito daquele ano, em dezembro, pelo programa Fantástico. Lembro de meu orgulho de guri gremista ao ver a bicicleta de André como o golaço de 1979. O centroavante voador, agora já familiarizado com as técnicas de pouso, caiu manso sobre o gramado, levantou e correu para o abraço da torcida.

Tive oportunidade de conhecer André Catimba em 25 de setembro de 2017, na Hamburgueria 1903, no Shopping Praia de Belas, em Porto Alegre, em evento realizado para lançar o livro Heróis de 77 (AGE, 2017), de Daniel Sperb Rubin (4). Estavam lá também outros craques do time como Yura, Tarciso (muito gente boa), Éder, Oberdan (simpaticíssimo), Remi. Ancheta, Cassiá e Jorge Leandro. O Peninha estava lá, mas o Gil, não. Vim pra casa com o meu exemplar autografado pelos craques, claro, especialmente Tarciso e André.

Ontem à tarde fui surpreendido pela notícia do seu falecimento. Fica a lembrança e o legado de seus feitos esportivos, dentre os quais selecionei esses dois momentos marcantes. Que os deuses do futebol te recebam em festa no paraíso e que jogues umas peladas aí nos campos celestiais com o Tarciso, grande centroavante voador.



(1) - André foi revelado pelo Ypiranga-BA (1966-68). Jogou por: Galícia-BA (69/70), Vitória-BA (71/75), Guarani-SP (76), Grêmio (77-79), Bahia (79), Argentinos Juniors (80), Pinheiros-SP (81), Náutico-PE (81), Comercial-SP (82), Ypiranga-BA (83-84) e Fast Clube-AM (84-85).
(2) - Grêmio 1x0 Inter: pênalti errado por Tarciso e gol de André Catimba. Vídeo You Tube: https://www.youtube.com/watch?v=ymgQ8s3Hl1s
(3) - Grêmio 2x0 Esportivo: A Bicicleta de André Catimba. Vídeo You Tube: https://www.youtube.com/watch?v=btAjdYe5L40
(4) - GUERREIRO, João Adolfo. Who are you? André Catimba. www.souzaguerreiro.com e Jornal Portal de Notícias. 29set2017: https://souzaguerreiro.com/visualizar.php?idt=6128444
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 29/07/2021
Alterado em 29/07/2021
Comentários