João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos

O sal no farol de Tchaikovsky

 

Trata-se de um livro culinário de verão, que se passa na cozinha de um farol, onde o belo faroleiro de olhos verdes e cabelos negros encaracolados, Ivan, ensina veranistas, na maioria funcionários públicos estaduais aposentados, a usar o sal marinho para temperar o churrasco. Mas bah, tchê.

 

O sobrenome impronunciável e esquisitão da autora significa "aquela que ouviu Tchaikovsky". Depois do famoso e televisivo romance A Casa das Sete Mulheres, Letícia Wierzchowski evoluiu, foi tirar férias de verão no Farol da Solidão em Mostardas e, lá, escreveu essa história mais abrangente, agora ambientada num farol unisex com oito pessoas: o faroleiro, a esposa e os seis filhos, três homens e três mulheres - é o farol dos quatro homens e das quatro mulheres. Há um personagem afro, Ernest, o pescador leitor, que morre no início, e um branquelo, Julius, o professor leitor, que morre no final, mas esses não contam para o censo do farol. Também não há musica no livro, a não ser por um violãozinho tocado por um dos filhos de Ivan, Lucas. E há um livro, escrito por uma de suas filhas, Flora. 

 

No final, o faroleiro morre acometido no cérebro pelo bichinho de uma carne de porco mal assada e sua esposa, a bela Cecília, inconsolável, come sal puro e entra no mar, sob a luz intermitente do farol, levando consigo o quilométrico tricô multicolorido que fazia, com o fim de fazer fantasias de carnaval para os filhos, agora transmutado em mortalha. Uau syl! Romântico, tétrico e cadavérico.

 

Na verdade, o livro trata da saLdade, sendo a cuLinária apenas metáfora para a vida humana. Já o farol, obviamente, é um símbolo fálico, com sua luz a refletir no mar representando a concepção, o dar à luz. Tudo começa e termina na luz. O tricô é o tecer da vida; a lã, a linha da vida saindo do novelo para o futuro emaranhado pelas mãos do sujeito e do destino. O sal é a árdua travessia da vida, repleta de saLdades que a gente mesmo cozinha, assim como ao saLgar a carne, espetá-la e assar na churrasqueira. SaL, Luz, saLdade, noveLo de Lã, o L da vida, do faroL, do símboLo fáLico.

 

Sal é o livro a ser debatido amanhã pelo Clube do livro de Charqueadas, na Biblioteca Pública Municipal Vera Gauss. Estão todos convidados, mesmo que eu já tenha contado a maior parte da história pra vocês.

 

Ah, já que eu estraguei a leitura de vocês, contarei: todos morrem no final (inclusive os funcionários públicos aposentados), quando uma gigantesca tempestade arrasa o farol. Tri, né? Tri triste, trágico e tricô.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 19/08/2025
Alterado em 19/08/2025
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