Assisto o You Tube domingo de manhã. Um casal que viaja o mundo e posta videos. Devem viver disso ou são puta ricaços. Mas são progressistas, meio ripongas. O cara tem um cabelo grande e encaracolado. Vi 670 mil visualizações na postagem.
Estão nesse vídeo na cidade de Porto Willians, no Chile, o verdadeiro fim do mundo na América do Sul, na Patagônia. Na verdade, quase, pois tem uma vilinha com quatro famílias e 22 pessoas um pouco além, este, sim, o verdadeiro fim do mundo. O fim do mundo fica no Chile, portanto. Depois, noutro vídeo, já estão na "cidade mais esquisita dos EUA", Austin, Texas. Viajam esses dois. Gostei deles, simpáticos. Lá vão comer um burger. Sabe quanto? 100 reais. Bah, cem pilas por um burger. Legal o burger, bem convidativo, mas cem pilas? Lembrei do xis do Capacete, aqui do ladinho de casa. Deu vontade. Imagina, aqui neste canto das Américas, Charqueadas, um xis mais legal que o burger de Austin e por um quarto do preço? Vamos aproveitar a vida bela, né?
- Amor, vou comprar um xis. Quer um?
- Não, estou descongelando os salsichões e farei arroz pro almoço.
Não, tô a fim do xis do Capacete. Saí. A lancheria estava fechada. Ué, como assim? Como não estava aberta domingo ao meio dia pra matar a minha fome, saciar meu desejo? Bom, o Capacete e a Vandreia tem de viver, também. Almoçar com a família no domingo, dormir, sei lá. Graças a Deus. Estamos ficando mal acostumados, achando que as pessoas devem abdicar da vida e ficar a nossa disposição. Entretanto, as pessoas tem vida fora do trabalho. Então o negócio é seguir adiante em busca de um xis. Lembrei que tem um Caça-Fome no posto de gasolina. Vamos até lá.
Fechado, mas a loja de conveniência está aberta e tem uma mesinha na frente. Não tem tu, vai tu mesmo. O que tem ali? Vamos ver. Na geladeira, um burger da Seara, que esquentavam ali mesmo. Vai ter de ser. Nem lembra o burger de Austin ou o xis do Capacete, fica muito aquém, mas o dia de sol tá lindo e esse burger não é tão desgraçado assim, até que aparenta ser bem comível. Sento pra esperar o burger, é rapidinho, um minuto e pouco. Nisso estaciona um fusca marrom. Quem tá no volante? Um colega meu.
- E aí, que fuscão. 1300?
- Não, 1500. Tenho há uns oito anos. Nunca tinha me visto com ele?
Não, nunca tinha. Cidade pequena, mas não. Carro pra mim é fusca, DKV e kombi, o resto é tudo igual, parei no tempo no quesito automobilístico. Minha irmã tá sempre trocando de carro. Me deu vontade de comprar um fusca pra andar no domingo. Mas um 1300 L, que nem uma tia que era da censura da Polícia Federal comprou uma vez e foi mostrar pro meu pai, um amarelo. Nunca esqueci, eram os anos 1970 e gamei no fusca 1300 L amarelo da minha tia. O colega foi embora e voltei na loja de conveniência pra pegar o burger. Tava bom, com cerveja foi. Fiquei comendo e olhando as pessoas entrarem e saírem do almoço no Tomatto e os fregueses abastecerem os carros no posto. Uns três ou quatro gordinhos de perna fina.
Burger comido, me senti em Austin. Estadunidenses adoram comer porcaria em postos de gasolina. Somos clones do American way of life, trouxas colonizados e sem vergonhas. Caboclos querendo ser yankess, enquanto Trump nos ferra pros americanos comprarem mais Burger King. Volto pra casa. Não foi o xis do Capacete e tampouco o burger de Austin, mas valeu a pena, eh eh. A mulher tava recém acabando de descongelar os salsichões, ainda bem que não fiquei esperando. Talvez vá comer um xis no Capacete de noite. Se não me engano, eles abrem domingo de noite. Ou, então, procurar um fusca 1300 L amarelo pra comprar.
Uma boa semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, comam, vivam e fiquem com Deus.