Ontem tive a grata oportunidade de ver um bom número de artistas e produtores culturais locais reunidos para o lançamento da exposição de desenhos em bico de pena e nanquim sobre os ciclos econômicos charqueadenses do artista plástico Manoel Henrique Paulo, carinhosamente conhecido na seara das artes locais como Mané - uma alcunha artística sonoramente mui apropriada, êtes-vous d'accord?
É a segunda parte de um projeto maior que iniciou, em julho do ano passado, pelos prédios históricos da cidade. Só para citar uma das presenças, vi Mané e Tininho conversando e pensei: Uau, dois dos grandes da cultura de minha cidade! Tininho, como é popularmente conhecido e reconhecido na comunidade, é o diretor e produtor de teatro e curta metragens Carlos Alberto do Rio Martins, dos grupos teatrais Charqueartes e Carpe Diem. Outra figura única que merece uma crônica especial. E, claro, não poderia esquecer de citar que a exposição tem a curadoria do professor de artes do IFSul Charqueadas Luiz Roberto Barbosa e que as obras foram baseadas em pesquisa histórica e escuta da memória popular conduzidas por Lilian Matos (UFRGS) e Betinna Lopes (IFSul), que também atuam como mediadoras culturais do projeto.
Entretanto, ontem a noite foi (e a semana será) de Mané. O que dizer sobre Manoel Henrique que já não foi dito em ocasiões anteriores e, principalmente, no ano passado? Um artista e um militante da cultura com uma vasta ficha de serviços prestados para Charqueadas, à região Carbonífera e ao Rio Grande do Sul. Arriscaria a dizer que é, neste quesito, "A" figura cultural da cidade - caso único - e, quiçá, da região. É difícil alguém com o seu currículo como artista, militante e dirigente local e estadual. Não redundarei acerca disso, podem pesquisar e conferir, o cara é fodástico.
Em sua fala na abertura, Manoel Henrique, além de afirmar o caráter de continuidade desta "Registros Artísticos: os ciclos econômicos de Charqueadas" em relação a exposição de 2024, "Inventário Artístico da Memória Arquitetônica de Charqueadas", destacou que o ciclo que mais lhe deu trabalho e tocou foi o do charque, pela impactante dimensão, digamos, sanitária e humana do mesmo e pela ausência de referências históricas locais. Não que os outros também não sejam impactantes - o da mineração de carvão, o da geração de energia termoelétrica e o siderúrgico. Aliás, Charqueadas se caracteriza por essa árdua - e brutal - relação entre o trabalho humano e a natureza em seus ciclos econômicos, tanto pelos cerca de mil escravos do primeiro ciclo, o do charque, quanto pela dura vida operária na mineração e na siderurgia, que muito afetaram o meio ambiente local. Hoje, inclusive, nessa mesma linha de ciclos com dimensão humana pungente, a cidade é um polo penitenciário: parece sina, não é mesmo? Vá saber.
Fiquem com meus sofríveis registros fotográficos feitos no início do evento, prestigiado pelas presenças do prefeito de São Jerônimo, Júlio Prates Cunha, da representante do governo municipal e da secretaria da Cultura, Elizete Lopes, e dos vereadores Patrick Vieira, Paula Vieira e Rose Souza.
Confiram a exposição, que ocorrerá entre os dias 12 e 14 de agosto — de terça a quinta-feira, das 14h às 19h - no Centro de Eventos Eleve/ASES, localizado na Rua Arthur da Silva Martins, nº 36, no centro da cidade, com entrada franca. É um privilégio que vocês terão, afianço.