Café Bar du Brézil

Entro no estiloso e limpo WC do shopping e lá está o quadro: um foto parte em P&B, parte em cores, de uma cafeteria em Paris (acima e, no detalhe, abaixo). O interior do prédio, por suas vidraças, é colorido; o exterior, onde estão um casal sentado se beijando, cadeiras, mesas e bicicletas, está todo em P&B.

Abro a braguilha metálica da calça de brim e tirou o bilau pra fora pra urinar no mictório. Legal essa palavra, devido ao encontro consonantal "ct". Adoro a sonoridade dos encontros consonantais. Por isso, por exemplo, escrevo homlia em vez de homilia, por gostar da sonoridade do "ml". Pouca vogal, que nem o duo gaúcho Gessinger/Leindecker. Pois observo o casal lá, na deles, de boa, enquanto faço o que tenho de fazer. Fico um pouco constrangido com a situação. E se eles olharem pra frente e me verem ali, de braguilha aberta, bilau na mão, urinando? Estaria eu indiciado por atentado violento ao pudor, pois, mesmo a cafeteria do quadro sendo de Paris, o quadro está aqui no Brasil e a Lei que vale é a nossa. Viu, Trump? Quero dizer, Macron.

Legais as bicicletas. Nunca irei à Paris, mas, se fosse, curtiria um monte andar de bicicleta, flanar - como os franceses dizem - parar numa cafeteria brasileira e dar um beijo na namorada. Isso é que é romantismo; motel é açougue. A bexiga estava cheia. Deu tempo de pensar tudo isso com o bilau na mão a esvaziando. Terminei. Fui lavar as mãos. Olhei o casal: ainda lá, beijando-se. Deu uma invejinha deles. Eu ali, sozinho, e eles se beijando.

Entra um cara no WC. Saio. Vou até a cafeteria no primeiro piso, sento numa cadeira com pelego, confortável, e peço um café. "Du café brésilien, s'il vous plaît, monsieur", claro. Falado com biquinho o acento grave, que por lá o acento é invertido e o "é" tem som de "ê".