Era o último jogo do ano na Arena Grêmio, em dezembro de 2019. Gilmar e seu filho Matheus resolveram que era o momento de levar o pai e avô, Walter Oliveira, para conhecer o novo estádio do seu time do coração.
Só não pensem que o seu Walter, surpreendentemente lúcido e ágil aos 88 anos, era cristão novo no futebol. Não, mas claro que não. Ele foi no jogo inaugural do Olímpico, em 1954, aos 23 anos (coincidentemente a mesma idade de seu neto), quando ainda morava em Butiá, onde trabalhava como mineiro e tocava acordeom nos bailes junto com seu irmão Volter, encantando moças como Iolanda, 12 anos mais jovem, sua futura esposa. Naquela cidade, antes de vir para Charqueadas, onde residiu por décadas, levava os filhos para assistir aos confrontos entre os locais Brasil e Butiá, eis que torcedor do primeiro. E gremista, sempre gremista.
Seu Walter ficou encantado com a Arena. E a Arena com ele. Seu neto publicou duas fotos suas no Twitter e elas tiveram 1k de curtidas, além de 100 compartilhamentos, 37 mil visualizações e 7 mil interações. Conversei com o seu Walter durante aquele Grêmio 2x0 Cruzeiro, foi a segunda pessoa de Charqueadas a ir no primeiro jogo do Olímpico com a qual já falei. A outra foi a saudosa dona Loivaci Lima, da Banca do Povo. Pois bem, seu Walter, falando com sua voz calma e pausada, recordou do placar (2x0), do time (Nacional do Uruguai), e do goleador, Zunino, atacante uruguaio que jogava no Grêmio. Zunino estava, sim, naquele jogo, mas quem marcou os gols do Tricolor foi o centroavante Vítor.
Na verdade, há 65 anos, aquele longínquo Grêmio 2x0 Nacional era a primeira partida do Torneio Inaugural do Olímpico, do qual participaram também Liverpool do Uruguai e o Internacional dos tempos do famoso Rolo Compressor. O Grêmio fez 4x0 no Liverpool, mas depois levou um sacode daqueles do rival local, 6x2, ficando o Inter de Larri e Bodinho com o título. Zunino marcou dois gols no torneio, um contra o Inter e outro contra o Liverpool; assim, não sei o que traiu a memória do seu Walter naquela partida. A aparência dos atletas é que não foi. Embora os dois usassem bigode, o uruguaio era branco e media 1m70cm, enquanto o brasileiro era negro e chegava a 1m87cm.
Em 1954 eram 38 mil pessoas a lotar o Olímpico ainda sem o segundo anel, que somente seria concluído em 1980, por outro gremista que lá também se encontrava, Hélio Dourado. Em dezembro de 2019 estiveram na Arena 20 mil pessoas, estádio com capacidade para 55 mil torcedores. Hélio Dourado não estava, pois faleceu aos 87 anos, em 2017. Era contemporâneo do seu Walter. Seu Walter era a história viva, testemunha ocular daquele fato importantíssimo na vida centenária de seu time.
Seu Walter, gremista, mineiro e gaiteiro criado em Butiá, faleceu em 12 de setembro de 2024.