Na sexta-feira passada o Rio Grande do Sul soube da notícia do falecimento de Rui Carlos Ostermann, aos 90 anos. Grande homem da comunicação, das letras, da cultura e da crônica esportiva gaúcha. Um intelectual, professor com formação em Filosofia. Guardo lembranças dele...
Entrou para a Rádio Gaúcha em 1978 e eu comecei a acompanhar futebol em geral e o Grêmio em particular em 1977. Ouvia-o no Sala de Redação, onde era âncora, via-o na TV e o lia em Zero Hora. Onipresente o seu Ruy. Fazia parte do time de estrelas do Sala onde também brilhavam, dentre outros, Lauro Quadros, Armindo Ranzolin, Paulo Sant'Ana e Oswaldo "Foguinho" Rolla, ícones da imprensa esportiva da época - apenas Quadros ainda está vivo, agora. Então Ruy Carlos Ostermann era uma das minhas referências, com seus comentários cultos, sistemáticos e concatenados. Sempre gostei desse estilo, do seu estilo.
Em 1984 entrei na escola de segundo grau Tiradentes, da Brigada Militar, que ficava na avenida Aparício Borges, junto à Academia da BM. Assim, fui morar em Porto Alegre, na casa de um primo, Saul, e de sua esposa, Ana, num conjunto habitacional bem no início da Estrada do Forte. Certo dia nos levaram para o auditório da Academia, onde teríamos uma palestra com Rui Carlos Ostermann e Lauro Quadros. Bah, naquele dia comecei a achar mesmo que a Tiradentes era bala. Imagina? Os caras traziam Ruy e Lauro para palestrar! Estudei no Cruz de Malta em Charqueadas e nem o prefeito ou o secretário da Educação iam na escola dar palestra. Compareci me sentindo mega privilegiado. Contaria orgulhoso pro meu pai e pros meus amigos da Cohab isso, claro. Eles ouviam esses caras, meu pai os ouvia, e eu os conheci em minha escola. Ruy estava com 50 anos, na ocasião, logo, isso foi há 41 anos.
Entretanto, lembro muito bem da palestra e do que eles disseram. O que mais me chamou a atenção foi o alerta de que o futebol brasileiro rumava para a decadência devido à urbanização selvagem dos centros urbanos, o que eliminava os campinhos de vila e de várzea, a grande escola de formação do esporte em nosso país. Bem coisa de um intelectual de esquerda essa análise prognóstica certeira: o material determinando a superestrutura social. Ruy era MDB, seria deputado estadual e secretário de Estado por este partido.
Na Feira do Livro passada, comprei sua biografia escrita pelo jornalista Carlos Guimarães (foto acima - Ruy é o de camisa vinho). Vinha acompanhando este trabalho pela imprensa e redes sociais e estava na expectativa do lançamento, embora não tenha ido na sessão de autógrafos. Dei uma lida exploratória no livro, que consiste em ver seu conteúdo, ler a introdução e algum capítulo de maior interesse - no caso, o da sua viuvez, após 58 anos de casamento. O fato é que quem gosta muito de livros sempre os compra em maior quantidade que sua capacidade de leitura comporta, como é o meu caso, o que gera uma fila de espera. Sua morte repentina o levará para o inicio da fila, levando o livro do Lauro Quadros junto.
Uma boa semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, vivam e fiquem com Deus.