João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos

Cronicar é viver

 

Sobre o que escreverei hoje? Raramente, em meus 35 anos de atividade escrita, basicamente como cronista, essa pergunta me acomete, mas hoje foi um desses dias. Puxa vida, são tantos assuntos, como é que me dá um branco? Mas deu. Às vezes, dá. O nada vem assim, do nada. Nonada, como disse o Riobaldo Tatarana em Grande Sertão: Veredas.

 

Ia escrever sobre o jornalista Bira Valdez, pois dia 23 fez 20 anos da morte dele aos 52 anos, de infarto, como vi numa postagem de sua filha, a também jornalista Paula Valdez, no Facebook. Entretanto, não veio nada à altura à cachola. Buenas, cronicar é viver, ou seja, a crônica é a literatura do cotidiano, gênero literário nascido no jornalismo impresso, onde justamente comecei. Não, minto, comecei profissionalmente (mazáááá galo - olha eu me gabando, como o leão aquele lambendo os testículos) no Sindimetal Charqueadas, no setor de Imprensa e Divulgação, como editor do boletim, onde escrevia artigos, informes e a famosa seção Marreta, que já existia e a qual dei continuidade - só depois iniciaria a carreira de cronista, semiprofissionalmente. O Paulo Augusto Costa era o diretor, ele que me convidou depois de ler uns textos meus de Sociologia, que eu cursava na Unisinos. O Irani Rodrigues Palma era o presidente do sindicato.

 

Buenas novamente, como eu dizia, cronicar é viver e, como a crônica é a literatura do cotidiano, fui pedalar por aí em busca de inspiração direto na fonte. Primeira parada, lancheria da dona Idelvira, para tomar café com o confrade Sérgio, ler ZH e bater papo. Segunda parada, Biblioteca Vera Gauss, onde a Senilda e a Carina não estavam, mas sim a Patrícia e o Jones. Troca rápida com o Jones, que agora está no Museu (provisoriamente ali no Prédio das Bandeiras, até o prédio perto da prefa ser reformado), aluguei o ouvido da Patrícia por uma boa meia hora, pobrezinha. Dei um chocolate pra ela, pela consideração que teve por mim.

 

Buenas de novo, agora já tinha uma boa pá de ideias e assuntos pra escrever algo hoje pro Portal de Notícias. Cheguei em casa, almocei e fui tirar uma soneca, pra maturar os pensamentos. Apareceu num sonho a cantora aquela, a Iza (acho que é esse o nome dela - fui pesquisar no Google: é), vejam só, dizendo que havia pedido pra mãe dela se podia me namorar. Imagina? Que isso, guria, já sou até vossalo da Trica! Então lembrei da Mariom, a namorada do Fernando Mendes, que escreveu sobre ela em seu conto nos Conteiros de Charqueadas. E, na sequência, lembrei também que o Mendes iniciava hoje seu programa de rádio.

 

Fui ouvir. O Mendes disse que, enquanto lavava a louça, certo dia Deus falou com ele pra fazer ou escrever tal coisa - ele estava sendo metafórico, não literal, gente. E eu pensei: Deus falou comigo - metáfora - pra mim comprar uma máquina de lavar louça! Amo de paixão (isso existe, misturar amor com paixão?) aquela máquina. A D O R O. Não consigo viver sem ela - metáfora, gente. E, como agora à noite comprarei o sopão do Henrique Severo, vou a usar muito pra lavar a louça da janta. Pronto, tá aí, escreverei sobre a minha amada máquina de lavar louça. Cronicar é viver e tudo vira crônica. Tudo é Sociologia, disse um professor da UFRGS durante uma pós, e provou com N exemplos dos mais prosaicos que poderiam virar textos analíticos sociológicos, o cara era fera. E, se com a ciência é assim, ainda mais com a crônica, então!

 

Então tá, a crônica de hoje para o Portal será sobre a minha máquina de lavar louça. Todavia, tá ficando tarde. Tenho de mandar o texto duma vez pro Marcos ("Não pode passar das 19 horas"). Melhor deixar pra outro dia a máquina. E o itinerário já foi tão instigante que, ele mesmo, merece virar a crônica desta quinta-feira, não importando mais a pergunta de saída e a ideia de chegada. Pois, como também disse Riobaldo Tatarana em Grande Sertão: Veredas, a vida é, sobretudo, travessia.

 

Charqueadas, 18h42min. Enquanto escrevia, olha na TV, sem som, o City vencer por 5x2 a Juventus.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 26/06/2025
Alterado em 26/06/2025
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