"A guerra e uma doença" - escreveu Saint-Exupéry em Piloto de Guerra, a partir de sua experiência como piloto da Força Aérea Francesa durante a invasão alemã ao seu país na Segunda Guerra Mundial. Ele contrapunha essa frase a qualquer tentativa retórica que afirmasse ser a guerra uma aventura.
Estamos vendo Israel e Irã agora. Sim, é óbvio que Israel, EUA e Europa (Otan), depois da Síria, continuam a se aproveitar do momento em que a Rússia está envolvida na Ucrânia para atacar seus aliados no Oriente e eliminar os seus rivais de sempre, agora desprotegidos pelo pai urso. Onde está a extrema-direita, está a guerra - como bem acentuou Cazuza na canção Burguesia -, pois a guerra é a forma dela concretizar sua política. Por isso esvazia e ataca fóruns democráticos como a ONU. Os nazistas também atacaram a democracia liberal em seu país como estratégia para a tomada do poder na Alemanha. Mais do mesmo, história que se repete, eterno retorno.
A extrema-direita de Israel se reafirma internamente no país com a guerra, agora dita preventiva. Já vimos isso em 2003, no Iraque. Mais do mesmo, de novo, sempre o mesmo golpe retórico. O Hamas deu o motivo para tudo isso, foi o fósforo na gasolina, abrindo uma janela de oportunidades para a extrema-direita de Israel salvar a pele internamente. Bastardos inglórios do Hamas, malditos sejam pra sempre. 1914 e 1939 não foram suficientes, pois a lição já foi esquecida. Exupéry lamenta o desperdício de seu ensinamento pela humanidade reincidente e recalcitrante. Israel ataca o petróleo e o gás no Irã pra atingir a Rússia em particular e os BRICS no geral. O governo de extrema-direita de Israel nunca encararia o Irã sem EUA e Otan por trás bancando, pois sabe que seria um jogo muito alto pra ele bancar solo e que guerra não é brinquedo, é às ganhas. Ele o sabe muito bem. E a plebe ignara fica na torcida, como se a guerra e a morte fosse um esporte de arena. A guerra é uma doença, como a pandemia, e se espalhará pelo mundo como ela. Por isso Groenlândia, Canadá e nós estamos a perigo com a extrema-direita comandando os EUA. Até a democracia liberal estadunidense corre riscos, como já vimos no episódio inédito do Capitólio: ainda não vimos os limites da coisa, eis que a coisa não possui limites, mas apenas fome e força insaciáveis.
A extrema-direita come os outros, mas é também autofágica: Trump-Musk, EUA-Europa. A Europa está se danando nessa. Serão BRICS prum lado e EUA pro outro, no futuro - se houver. Não sei o que será da ou sobrará pra Europa, eis que as riquezas natural e tecnológica não passam por seus domínios territoriais. Ucrânia, Gaza e Irã são as bolas da vez na geopolítica entre as grandes potências imperialistas - incrível essa expressão ainda estar atual, né? Irã pode acabar como os outros dois, a não ser que a Rússia e a China intervenham, embora isso também não garanta nada: vejam o exemplo da Ucrânia, destruída paulatinamente mesmo estando debaixo das asas da Otan. Quem pode, pode, quem não pode se sacode ou sai de baixo. Eis a realidade.
A doença da guerra, o conflito ucraniano o mostra, muda seu paradigma tecnológico. Um drone de dez mil dólares pode destruir um tanque de dez milhões de dólares, um caça ou um bombardeiro de sessenta milhões. Até mesmo porta-aviões se tornam mamutes em extinção, máquinas de guerra enormes anacrônicas e obsoletas, como as naus e os encouraçados de antanho. Fora os drones, os mísseis e as apocalípticas armas nucleares é o que sobram como atuais no mundo bélico. Esses dias vi no You Tube um vídeo de drones russos caçando oito soldados ucranianos. Primeiro os forçaram a sair do bunker na floresta, depois os eliminaram, um a um, com se fossem um guri com plástico derretido pingando sobre formigas - quem garante que não eram guris russos a manipularem os drones? Já é bestial com formigas, com gente, então... Após a morte desses jovens soldados, homens e mulheres ucranianos (sim, a guerra não é machista, como toda a doença não o é), apareceu a infantaria russa para recolher os corpos e tomar a posição. Soldados mortos, soldados postos - todos eles humanos de brinquedo ou formigas. Barbárie. Doença!
E a guerra, como pandemia, pode chegar aqui? Bem provável. Via Milei na Argentina, ou pela retomada do poder pela extrema-direita no Brasil. Tanto colocar a Argentina contra o Brasil, quanto insuflar um golpe no Brasil ou mesmo colocar ambos contra a Venezuela, dependendo de como as peças estiverem sobre o tabuleiro regional quando chegar a janela de oportunidades. Possibilidades não faltarão, após o que acontecer na Ucrânia e no Oriente. Daí a América Latina se tornará a bola da vez, é bem provável. Ai de nós!
A guerra é uma doença, pandêmica, espalha-se. Mata e matará muito mais do que a Gripe Espanhola, o Cólera, o Ébola e o Coronavirus, somados e multiplicados. Quem viver, verá.
Uma boa semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, "façam amor não façam a guerra", vivam e fiquem com Deus.