Dia 20 de maio se comemorou os 150 anos da imigração italiana. Itália: um belo país, um belo povo, uma bela história e cultura e uma bela colonização que muito somou ao Brasil e ao Rio Grande do Sul, constituindo-se hoje em parte indissolúvel de nossa identidade. Na Serra Gaúcha encontramos, na minha opinião, as mais belas cidades do estado, emolduradas por aquela natureza ímpar.
Todavia, tudo isso obra do trabalho daqueles italianos que para cá vieram, fugindo da fome em seus país natal e passando inúmeras dificuldades e provações ao chegarem aqui, inclusive pelo relevo da Serra, inóspito e desafiador para a agricultura e a pecuária. Contudo, vieram, viram e venceram, como os antigos romanos. Ô gente, além de bela, admirável.
Admiro e respeito demais, construíram algo diferente por aqui, com base no cooperativismo, prosperando com produtos ímpares e obtendo as melhores distribuições de renda do Brasil, como vemos no caso de Pinto Bandeira com a cultura do pêssego. Não possuo antepassados italianos em minha família, só alemães, os Raupp, mas sou feliz por morar num estado com grande influência italiana em sua formação recente, pelos chamados "oriundi". Especificamente, gosto muito de Bento Gonçalves e Pinto Bandeira, belas cidades vizinhas, localidades onde poderia até residir.
Por falar em residir, em minha cidade, Charqueadas, não é diferente. Quando da emancipação do município, em 1982, dos 232 eleitores que assinaram a representação dirigida à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, constavam cidadãos de famílias oriundi que se envolveram no processo: Bastiani, Bombardelli, Colovine, Lanzarini e Tassoni. São, portanto, parte constituinte de nossa história.
E, assim sendo, acho legal as pessoas que, sendo oriundi, peçam a cidadania italiana. Nunca pediria a portuguesa, por exemplo, acho-me brasileiríssimo e adoro meu pais, mas entendo perfeitamente os motivos dos ítalo-descendentes. Conheço alguns, inclusive, que até me contaram sobre o processo de obtenção da cidadania e suas viagens à Itália. Alguns desses me relataram já terem sido pejorativamente tratados como "brasileiros" em aeroportos de lá. Isso me entristece, claro. E, recentemente, a mudança proposta pelo governo italiano de extrema-direita, restringindo sobremaneira a obtenção de cidadania pelos oriundi, deixou-me ainda mais amuado. Nem entrarei em detalhes sobre a lei aqui, pois acerca disso há bastante informação disponível na imprensa e na internet para aqueles que desejem se inteirar sobre.
E vejam só as ironias da história: nossos pracinhas brasileiros foram lutar e morrer na Itália a fim de libertar aquele país justamente da extrema-direita fascista, juntamente com outros países, como os EUA, com forte colonização italiana. E atentem que os colonos não abandonaram a Itália no passado, mas sim foram mandados embora de lá, motivo principal de seus descendentes tentarem voltar agora, creio. Entretanto, após décadas sendo recebidos de braços abertos, agora a extrema-direita diz que não quer mais de volta os oriundi. Acho isso social, política e historicamente injusto e desrespeitoso.
Assim, nada mais pertinente do que, na comemoração dos 150 anos da colonização italiana, reclamar pelo direito dos oriundi de retornarem à Itália. O pensamento totalitário de extrema-direita já fez um mal danado ao mundo há cem anos e, agora, ao recrudescer, nos mostra, mais uma vez, sua lógica: excluir e não acolher, mesmo os seus, a sua gente. A Itália já superou isso uma vez e voltará a superar. Inclusive, carbonários como o grande Garibaldi ensinaram à italianos e gaúchos isso no passado...
De minha parte, digo: obrigado, oriundi, pela sua gigantesca contribuição ao Rio Grande do Sul. Nós os adoramos, respeitamos e agradecemos pela sorte de os tê-los conosco.
Uma ótima semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, vivam e fiquem com Deus.