Pobre vermelho, não merece isso

Como gremista, até ficaria fácil para mim fazer coro aqui contra o inverídico segundo uniforme vermelho da seleção brasileira. Principalmente devido a fake news ter afirmado que a mesma seria utilizada em substituição ao uniforme azul, o da Copa de 1958, o do manto de Nossa Senhora Aparecida, nossa Padroeira do Brasil, a Santa Negra, a Santa do Povo. Todavia, o vermelho, esse tom de encarnado que tem esse nome por derivar do sangue de um verme que era espremido a fim de o obter, não merece tamanho preconceito, tanto político quanto histórico. Até por ser a cor do uniforme do time que minha saudosa mãe torcia, o Inter.

Claro, todos sabemos, que essa celeuma foi politica, teve base na polarização que o Brasil vive: uns encasquetaram com a canarinho, depois que a extrema-direita a "sequestrou"; outros, odeiam o vermelho, eis que é a cor do PT e, no geral, da esquerda e dos movimentos operários no mundo. Acho as duas posições, vistas exclusivamente pelo  ponto de vista futebolístico, condenáveis. Jamais deixei de usar a canarinho, mesmo sendo uma pessoa com visão de mundo formada nos valores de esquerda. J A M A I S! Bem capaz que eu deixaria de torcer pela seleção por causa disso! Uso e dane-se. Prefiro a azul, o segundo uniforme, por toda a simbologia religiosa que o mesmo possui e por o achar mais belo. Questão de gosto e opção, tão somente. Entretanto, esses dias saiu a preta, cor que não existe em nossa bandeira, mas a comprei e uso, pois achei legal e mais do que justa e propícia a motivação do uso da cor.

Com a fake news da camisa vermelha, fiquei observando a discussão. As pessoas de esquerda gostaram por serem de esquerda, enquanto as de extrema-direita não gostaram por serem de extrema-direita. Tá, é o motivo dos caras, não me cabe julgar a motivação das pessoas, mas sim dizer que quem polemiza por causa disso mostra que não está realmente interessado em futebol e em seleção, mas sim em ideologia política, somente. Fato. Contudo, pensando para além dessas motivações, não veria mal algum de um segundo uniforme vermelho para o Brasil a ser usado em algum jogo amistoso ou em algum torneio. Em jogos de eliminatórias, Copa América e Copa do Mundo, que permaneça o azul, histórico e tradicional.

Agora, dizer que o vermelho não tem ligação com as cores do Brasil e de sua bandeira, é desconhecer nossa história. Afinal, qual eram as cores da bandeira do Brasil Império, após a Independência? As mesmas cores da bandeira do Rio Grande do Sul, ou seja, verde, amarelo e... VERMELHO! E de onde essas cores vieram? De Portugal, ora pois. Então, o vermelho teria tudo a ver com um segundo uniforme da seleção, mais até do que a preta. E, fora a questão da bandeira do Brasil Império, temos ainda o significado de nosso nome, Brasil. Vem da árvore, e vocês sabem, tenho certeza, o motivo de a chamarem de pau-brasil, por sua cor vermelha como brasa. Logo, por tudo isso, qual seria o problema de a CBF usar a cor vermelha pra seleção e vender mais camisas? N E N H U M A. Fosse outra época, ninguém ligaria ou ficaria enchendo o saco nas redes sociais. Até gostariam, como curtiram a preta, sem fazer polêmica, não tenho dúvidas! Principalmente aqui no Sul, pela torcida colorada.

Porém, a história é fake, serviu apenas pra aflorar a ignorância e belicosidade de uma sociedade tristemente dividida política e ideologicamente, num debate, neste caso específico, estéril. Pior de tudo é que a seleção, em duas oportunidades, 1917 e 1936, já vestiu uniforme vermelho. Logo, há precedente. E também referências pelo mundo, como Itália e Holanda, que utilizam uniformes com cores que não estão em suas bandeiras. No caso da Holanda, ligado justamente à cor imperial, o que seria o nosso caso.

Este texto, o optei fazer agora, pra fugir da celeuma. As pessoas, sei, aderirão fracamente a uma crônica como esta, já água passada, superado o fogo de palha fugaz do furor nas redes sociais, mas acho melhor assim. Prefiro as leituras do bom senso, racionais, que agreguem uma visão desapaixonada sobre o tema. As polarizações costumam ser tão burras quanto as unanimidades.

Um bom final de semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, vivam e fiquem com Deus.