Adão, há muito, possuÍA a mulher inflável dos seus sonhos. DIAs e noites de amor, a seu dispor, sem precisar de camisinha. TodavIA, depois de um certo tempo, sentiu um vazio na relação, algo que faltava. Afinal, pra que serve o sexo, não é mesmo? Um filho! Sim, um filho! Mas como ter um filho com sua mulher inflável?
Eva era o máximo, tudo o que ele pediu ao deus tecnologIA, mas, infelizmente, não podIA engravidar. Ah, Eva e o vIAgra foram sua alegrIA e seu prazer por muito tempo, mas a vontade de ser pai crescIA dentro dele a cada dIA. Até que Adão viu na net os tais bebês reborn. Quinze mil, o que são quinze mil reais para a felicidade? NinharIA!
Encomendou um parecido consigo. Perfeito, o Abel. Adão, Eva (vestida, claro) e Abel no carrinho passeando pela praça. VIA os olhares espantados (de inveja) das pessoas e sentIA pena delas, por não entenderem a felicidade que uma famílIA é capaz de proporcionar a um homem. Como Eva desejava ter um casal, logo encomendarIA a Cainara, assim que o dinheiro desse. TrabalharIA e economizarIA para dar tal alegrIA à esposa dedicada.
A noite, deitado em sua cama ao lado de Eva e com Abel em seu berço, pensava em como os deuses capitalismo e tecnologIA foram generosos com ele. PossuÍA uma mulher eternamente jovem, fiel, bela e disponível e um bebê fofo, sem choros na madrugada e sem fralda cagada pra trocar, além da perspectiva de aumentar a famílIA muito em breve.
Um mundo perfeito: ganhos sem perdas, bônus sem ônus, lucros sem custos, maçãs gostosas colhidas na árvore da vida e da sabedorIA: precisamos de muito pouco pra sermos felizes, eis a realidade da vida; apenas devemos escolher bem e planejar com sabedorIA. Adão soube planejar com sabedorIA...
IA, digo, ia pro trabalho de Uber, único momento do dIA em que era obrigado a lidar diretamente com um humano de verdade. Os quietos ainda tolerava, mas os conversadores... "Tu viu, roubaram o Grêmio, terça?" E ele com isso, até colorado era, vIA todos os jogos em casa e era sócio, mas não IA, digo, ia no Beira Rio. Chegava na empresa, tudo automático, não precisava de colaboradores de carne e osso e dores e problemas, ô maravilha. Postava vídeos onde a IA fazia tudo, da produção à locução.
Chegava em casa e IA, digo, ia pra pra sua famílIA ali, disponível, esperando-o, a mulher e o filho, fofos: seu paraíso artificIAl, crIAção inspirada por sua bíblIA. Tão feliz estava que nem pedirIA mais tele-entrega, ele mesmo cozinharIA: "AlexIA", como se faz pão com ovo-frito?
"Não há nada de novo debaixo do sol" - EclesIAstes.
"Cada um na sua e todos com Free" - propaganda de cIgArro.
PS - Esta e uma obra de ficção literária, feita por uma ser humano e sem auxílio de IA, logo semelhanças com a realidade seriam apenas (tristes) coincidências. Este autor não tem preconceito contra quem compra bebê reborn ou mulher inflável ou usa IA. Cada um sabe o que é melhor pra si e o que faz com seu dinheiro de papel, virtual ou cripto-moeda.