João Adolfo Guerreiro
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Textos

Um ano da cheia de 2024 VI - A casa

 

Há um ano, numa sexta-feira, 17 de maio, publicava no Portal esta sexta crônica, intitulada A casa amarela, retratando parte da situação vivida em Charqueadas durante a enchente histórica do ano passado. Nela, escrevi sobre a casa amarela que foi engolida pelas águas do Jacuí, uma das muitas em Charqueadas com o mesmo destino.

 

Republico agora em maio os textos que escrevi no período, a fim de que as histórias que testemunhei em minha cidade, Charqueadas, não se percam na imaterialidade e fugacidade da internet, enquanto registro de parcela dos fatos ocorridos. São oito, todos republicados na data exata, ou mais próxima possível, da que foram publicados em 2024, ou seja, exatamente um ano depois. Espero que essa iniciativa esteja, de alguma maneira, sendo útil.

 

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Dia 21 - VIII - O horror das cheias em Guaíba City

 

 A CASA AMARELA

 

Pela primeira vez, desde que a enchente atingiu seu pico de 11,32 metros, a casa amarela ao fundo na foto aparece completamente descoberta, em registro feito às 17:30 horas de hoje.

 

Enquanto, da rua Distrito Federal, víamos o Jacuí subir nos primeiros dias, apreensivos e tristes acompanhávamos seu destino, sendo aos poucos engolida pela água, até desaparecer. A casa azul, ao fundo, não chegou a ser totalmente encoberta. Agora, essa lama sobre a rua asfaltada indica que o rio desceu, desce e descerá ainda mais, embora o estrago à casa e aos moradores já tenha sido feito. Às 18 horas o rio estava a 6,75 metros acima de seu nível, o que significa que está descendo mais rapidamente. Ufa, até que enfim.

 

Quando, antes do repique, o Jacuí desceu para 7,94 metros, deu para ver quase a metade dela, depois a agua quase que a cobriu inteira novamente, ao atingir 9,64 metros. Alturas e cores, casas e vidas. Impotência. Força solidária. A casa amarela resistiu e ainda está lá. Ignoro qual será o seu futuro, o futuro dos seus moradores. Vi a mesma coisa pela manhã, enquanto assistia a jornalista Patrícia Poeta em São Jerônimo, ao vivo, pela Globo, mostrar o drama e a destruição de sua cidade natal para o Brasil e para o mundo. As pessoas entrevistadas variavam entre as que persistiriam, as que se mudariam, as que não sabiam o que fazer e as que até pensaram em se matar, tamanho desespero ante a completa perda material.

 

Estamos todos no mesmo barco, alguns dentro dele e outros agarrados nas suas bordas, na água. A tarefa dos que estão no barco é puxar pra dentro dele os que estão fora. A Poeta deu uma baita força para isso, hoje, somou amplitude para a força solidária que muitos vem desenvolvendo. Todos nós da região Carbonífera seremos beneficiados. Valeu, guria.

 

Olhei demoradamente para a casa amarela, virei-me e vim escrever esta crônica. Foi um dia melhor este que terminou. Virão outros, ainda melhores, pois a solidariedade continuará.

 

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 19/05/2025
Alterado em 19/05/2025
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