Todo mundo que mora em Charqueadas e gosta de futebol sabe que o Cláudio Pires Duarte, lateral-esquerdo do Inter Bicampeão Brasileiro 1975-76, se criou na Colônia. O futebolista e ex-vereador Valdir Corrêa do Amaral o homenageou na Câmara de Vereadores. Jogou no Elite, o grande time de futsal da Colônia e de Charqueadas. No Elite, era companheiro de Denizard (goleiro), Delegado Beto, Menotti e Verta - que é sobre quem principalmente desejo escrever aqui nesta crônica.
A Colônia desde sempre foi um bairro de brigadianos, agentes penitenciários, professoras e presos, basicamente: eis sua fauna laboral. Se criou em volta, primeiro, das charqueadas, a mais conhecida delas a Meridional, propriedade do senador Ramiro Barcellos, que ergueu ali o imponente Solar dos Barcellos, mais conhecido na cidade como o Casarão da Colônia. Após, na era penitenciária, iniciada em algum momento entre o final dos anos 1920 e início dos 1930 (não possuo certeza do ano exato), aglutinou-se em torno Colônia Penal Agrícola General Daltro Filho, até essa ser transferida de local e ali ser instalada a atual Penitenciária Estadual do Jacuí - PEJ. Sei dessas coisas porque nasci ali. E sei mais ainda: que o Verta - apelido de Everton Calbar - foi o melhor jogador de futsal que já existiu em Charqueadas. Sim, melhor que o Cláudio Duarte, bem melhor, conforme dizem aqueles que viram os dois juntos em quadra. Dizem mais: que Cláudio era o menos bola dos irmãos Duarte, eis que seus manos Clóvis e Tibica eram melhores. É o que eu me criei ouvindo dos mais velhos na Colônia.
O Verta (foto abaixo, comigo) eu vi jogar, mas não no Elite, claro. Dizem que o time fazia jus ao nome. Um cano! Já o vi quarentão mesmo, lá pela Colônia. Gastando a bola. Encantava os olhos seu grande talento. Tive a sorte de ser colega dele na mesma diretoria do Sindspejus, extinto sindicato dos agentes penitenciários gaúchos, na metade da década de 1990. Fomos jogar contra o time do Presídio de Cachoeira do Sul, no campo deles. Os caras se impressionaram com o Walter Romeu Bicca, nosso presidente, que fora goleiro profissional (se não me engano, em Rio Grande), e, claro, com o Verta. Até eu fiquei. E com vergonha, também: aquele cinquentão corria mais do que eu e a bola parecia que colava nele e o obedecia cegamente, enquanto eu, um rapaz medíocre em campo, desonrava a tradição do futebol da Colônia. Já o Xambão e o Valdir Amaral, esses não, honravam o nome do bairro, tanto que fizerem nome em Charqueadas por onde jogaram.
Pois sábado de noite encontrei os três (foto abaixo: pela ordem, Xambão, Verta e Valdir) jogando no torneio de fut6 realizado pela Associação dos Servidores Penitenciários de Charqueadas - ASPEC, no campo da sua sede, na Colônia. A rua da sede, aliás, chama-se Eugênio Batista dos Santos (pai do Xambão, cujo nome é Alexandre Belzareno dos Santos), que foi talvez o maior agente penitenciário que já existiu, merece uma crônica só sobre ele. O Xambão e o Valdir sessentões e o Verta com 77 anos, jogando pelo veterano. Cara, foi muito emocionante para um guri da Colônia, como eu, ver esses craques reunidos numa mesma equipe que, inclusive, foi a campeã (foto acima). Mais ainda por ter sido o time que meu ex-colega e amigo de juventude, César Duarte dos Santos, falecido no mês passado, jogaria. Senti-me representado em campo pelo Luciano Lombardini (foto abaixo, com a taça), da turma de juventude minha e do César lá na Cohab - nós três entramos para o sistema penitenciário. Também pelo time da Modulada estar no torneio (foto abaixo, uniforme amarelo e preto), Entretanto, foi muito legal ver o Xambão, o Valdir e o Verta jogando pelo mesmo time e sendo campeões. Principalmente o Verta, que craque, bah.
Claro, correu só dez minutos do primeiro tempo (eram dois tempos de 10 minutos), pois já havia jogado naquele dia! Ainda bate uma bola duas ou três vezes na semana, disse-me. Não ficou pra janta, onde pudemos provar do costelão, da ovelha e do porco primorosamente assados pelo Valdic Quinteiro - Menna Barreto do Quaraí - e pelo Fábio Melo - o agente, não o padre. Mas o Valdir e o Xambão ficaram, e ainda pude ouvir da boca do Valdir que o Verta foi mesmo o maior jogador de futsal de Charqueadas, e o Valdir sabe o que diz. Os caras foram legais comigo, deram-me até uma medalha do torneio como recordação, o que me deixou muito contente. Além de uma camisa branca do Brasil de Pelotas que o Luciano me trouxe.
Foi um torneio muito emocionante, por tudo, organizado pelo Itamar Souza e pelo Paulo Molina (foto abaixo), da Penitenciária Modulada. Lembrança do César, o Luciano ali, junto com o Valdir, o Xambão e o Verta. Bah, nunca esquecerei. Saí mais cedo, uma pena que não pude ficar pra ver a banda tocar. Só feras, também, nível profi: Wil (guita e voz), André Dornelles (baixo) e Molina (bateria). Passado e presente, Colônia e Cohab, ativos e inativos, tudo misturado. Contudo, confesso que ver o Verta jogar aos 77 e bater um papo com ele fez muita diferença pra mim.
Uma boa semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, vivam e fiquem com Deus.