João Adolfo Guerreiro
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Gatsby, o grande centenário

 

Hoje faz 100 anos do lançamento de O Grande Gatsby, famoso romance do escritor estadunidense Scott Fitzgerald (1896 - 1940). Esse livro será, inclusive, lido e debatido no mês de maio pelo Clube do Livro de Charqueadas, oportunidade em que escreverei especificamente sobre o mesmo aqui.

 

Entretanto, não poderia deixar passar a data sem falar sobre o ano em que foi lançado, mais precisamente sobre o fato de Scott ter conhecido o conterrâneo Ernest Hemingway (1899 - 1961) em 1925. Os dois jovens escritores estavam em Paris, buscando um ambiente artístico propício durante o pós-guerra, quando aconteceu o encontro. Faziam parte do que Gertrude Stein (1874 - 1946), outra estadunidense em Paris, denominou de A Geração Perdida. Artistas de várias nacionalidades como o pintor Pablo Picasso (1881 - 1973), o poeta Ezra Pound (1885 - 1972), o poeta T S Eliot (1888 - 1965) e o romancista James Joyce (1882 - 1941) faziam parte desse grupo, residindo na capital francesa na década de 1920.

 

O livro que melhor retrata as intimidades da Geração Perdida é Paris é uma Festa (1961), de Hemingway. Nele, três de seus vinte capítulos se referem a sua amizade com Fitzgerald. Conheceram-se num bar, Dingo, onde Scott chegou falante e tecendo elogios aos contos de Ernest, além de lhe fazer várias perguntas, deixando-o constrangido e irritado, num primeiro momento. Mais adiante, solidificada a amizade, deixou para Hemingway um exemplar do recém lançado O Grande Gatsby, que impressionou o já novo amigo. Scott, vejam só, queixava-se da baixa vendagem do livro à época, que depois viria a se tornar um clássico da Literatura Americana a obter vendagens grandes e constantes pelas décadas seguintes.

 

"Quem escreveu um livro tão bom como O Grande Gatsby seria capaz de escrever outros, melhores até. Como eu não conhecera Zelda ainda, não podia imaginar com que dificuldades terríveis teria de lutar. Mas em breve teríamos contatos com esse lado do problema", escreveu Hemingway em Paris é uma Festa. Zelda (1900 - 1948) era a esposa de Fitzgerald, que viera com ele dos EUA e com a qual possuía uma filha. Talvez os bastidores do que Ernest viu dessa relação sejam a melhor parte de seu livro, mas aqui vou falar apenas de um detalhe que demonstra o grau de intimidade da amizade entre eles. Scott certo dia convidou-o para almoçar no restaurante Michaud, e ele percebeu que Fitzgerald tinha algo importante pra lhe dizer. Após muitas amenidades, tascou: "Você sabe que jamais dormi com outra mulher além de Zelda?"

 

Todavia, a revelação não era o Z da questão. Continuou: "Zelda me disse que um homem como eu jamais poderia fazer a felicidade de mulher alguma. (...) a causa dos problemas... uma questão de medidas, segundo ela". Sim, isso mesmo, ela acusou o marido de ter o pinto pequeno. Como ele queria ter a opinião do amigo, Ernest o levou para o banheiro e o mandou baixar as calças. Após ver a coisa, disse sinceramente: "Você é perfeitamente normal. Tudo ok. Não há nada errado com você". Scott perguntou: "Nesse caso, por que é que Zelda diria uma coisa dessas?" Ernest respondeu: "Só para perturbá-lo. Essa é uma das maneiras mais antigas que se conhecem de perturbar um homem. (...) Ora, que bobagem! Esqueça o que ela disse. Zelda está é louca". Ainda não estava, mas ficaria, de fato, em breve. Para Hemingway, a esposa o atazanava por sentir ciúme de seu talento, esse sim, indubitavelmente grande, assim como Gatsby, o personagem principal de seu romance.

 

Ernest Hemingway, ainda em Paris, publicaria O Sol Também se Levanta (1927), seu primeiro romance, que é inspirado justamente na vida dos artistas na França durante os anos 1920. Contudo, nada como ler Paris é uma Festa, que seria publicado logo após o suicídio de Hemingway. Todos esse livros que citei podem ser encontrados para empréstimo na Biblioteca Municipal Vera Gauss, em Charqueadas. Uma boa pedida também é o filme Meia Noite em Paris (2011), de Woody Allen, que traz mui criativa e gostosamente o ambiente da Geração Perdida para o cinema.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 10/04/2025
Alterado em 10/04/2025
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