Na tarde do primeiro dia do ano, após o almoço com a família, deitei satisfeito, realizado e em paz e, pela janela de vidro do quarto, observava a chuva caindo. Escorria farta pelas telhas e desabava para o chão. Coisa linda de se ver, reconfortante. Estava de boa e na boa.
A imagem me trouxe à memória uma canção do cantor e compositor charqueadense Alberto André (1) sobre um poema da saudosa poeta de Santa Cruz do Sul Cheila Stumpf (2), Aguaceiro. Podem clicar no link e escutar antes de prosseguir.
Prestaram bem atenção na letra? Pra garantir, voltem lá e escutem mais uma vez.
"Gotejo tão sonoramente", que verso, né? Que imagem poética a expressar e traduzir perfeitamente um sentimento e estado de espírito! Estava ali, portanto, na primeira quarta-feira de 2025, gotejando tão sonoramente sobre o meu leito. Não imaginava outra coisa a ser dita. Perfeito, Cheila, Deus a tenha nos palácios celestiais da poesia por tal achado, dentre outros. Vai ver Ele mesmo te enviou pra ser poeta no mundo e cedo te buscou, não é mesmo? O que conhece nossa vã filosofia...
"Corro pra ti feito água que colho Na calha do meu percurso". No caso, corri para pessoas que eu desejava que ainda estivessem por aqui, no Natal e virada do ano, e para as pessoas que estiveram, grato pela presença. Logo, refletia sobre o presente e passado do meu percurso, estimulado pela natureza e pela poesia sublinhada pela canção.
"E toma parte neste concerto
Gotejo tão sonoramente
que a própria chuva se faz de paz"
Um bom final de semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, vivam e fiquem com Deus.
(1) - Alberto André Pereira (foto abaixo), que recentemente fez 65 anos, nasceu em Arroio dos Ratos e vive há décadas em Charqueadas, onde fez parte do Grupo Voz Ativa no início dos anos 1980, obtendo sucessos como a inesquecível canção Forró Estilizado. Solo, lançou o LP Íntimo em 1990, com hits locais como a sensualíssima Me Faz Levitar, além de gravar CDs como Outros Tempos (1998), Bem Simples (2006), Encanto da Terra (coletânea, 2007) e Claridade (2009), produzindo outras pérolas como Lâmina do Aço, Sobreviver, Caminhando por aí, Subtração, É poesia, Pescador de Lambari, A Cor do Amor e Pedalar. Desde março de 2014 está aposentado dos palcos, permanecendo ativo como professor de música, tendo se aposentado como músico pelo INSS há poucos anos. Musicou outros poemas de Stumpf, como Só a Chuva, Temores e Pássaro Ferido.
(2) - Cheila Stumpf (foto acima), professora, psicanalista e poeta, nasceu em março de 1945 na cidade de Santo Ângelo e faleceu em 2003 em Santa Cruz do Sul. Além de ter participado de coletâneas, publicou individualmente Esquina do Real (Sul Americana, 1992), Segundo Horizonte (Alcance, 1995), Passadiço: história de um poema (Litteris, 1998) e Ex/Pio (Litteris, 2001).