Como disse na crônica levinha de sexta-feira, fui ver as múmias no final de semana, lá na exposição sobre o Egito no Shopping Iguatemi. Assisti também o filme Gladiador II, de Ridley Scott, mas sobre não escreverei nem recomendarei. A exposição, claro, foca nos achados de 1922, na pirâmide de Tucancâmon, o dito faraó "menino", assim como o "rei" Neymar ainda o é hoje no Brasil, aos 30 anos.
Embora tenha falecido já homem, mesmo jovem, aos 19 anos, Tutancâmon assumiu o trono aos 9 anos e casou com 10, com sua meia-irmã Anquesenamon, de 12, também fila do faraó Aquenáton, mas com Nefertiti, enquanto o "menino" era de outra esposa. É, o pessoal não perdia tempo no Egito Antigo. E casavam só entre a família mesmo, com uniões incestuosas e tudo o mais, a fim de manter forte e intacta a linhagem real. Esse tipo de coisa foi praticado até bem pouco tempo no mundo, aliás. Não esqueçam, por exemplo, que o nosso General Câmara, que nomeia a cidade aqui da região, era casado com uma sobrinha de 14 anos, filha de sua meia-irmã mais velha por parte de pai.
Se os casamentos na família mantinham mesmo a linhagem intacta, por outro lado a enfraqueciam, gerando filhos doentes. Tutancâmon, cadeirudo como o pai, tinha uma grave doença genética nos ossos que o matou precocemente, suspeita-se, junto com a malária. Suas duas filhas nasceram mortas, inclusive foram enterradas junto com ele (foto acima). No seu breve período a frente do Egito, Tutancâmon não fez muita coisa, além de trazer novamente a capital do país para Tebas e restabelecer o culto ao deus Amon e ao politeísmo, desfazendo as iniciativas do pai, esse sim, um faraó que revolucionou o Egito, mudando a capital para uma cidade nova e por ele construída, Aquetaten, e estabelecendo o culto monoteísta a Áton.
Por tais ousadias, o nome do grande Aquenáton foi riscado dos anais da história egípcia, enquanto o insosso e breve Tutancâmon tornou-se famoso por seu túmulo ter permanecido intacto por três mil anos e, quando descoberto em 1922, permitido avançar a arqueologia sobre o período. E assim chegamos ao cerne da exposição no Iguatemi, onde as atrações principais são as belas réplicas de sua tumba: ídolos, múmias, estátuas, objetos variados, sarcófagos e máscara. Pouco mais de um terço das peças, de uso religioso e cotidiano, são originais, como moedas, vasos, cerâmicas e pequenos ídolos bizantinos, romanos e egípcios, alguns do tempo de Jesus e outros com milhares de anos antes dele. Fiquei tocado e emocionado com esse material. Imagina só? Pessoas usaram e adoraram esses objetos a milênios, vixe! E meus olhos, que a terra igualmente há de comer e sumir no esquecimento nas areias do tempo, olhando-os, como testemunhas oculares do presente.
O mais legal, contudo, são mesmo as réplicas, vendidas pela exposição como idênticas aos originais. Entre tudo o que está lá, temos a máscara de Tutancâmon, toda em outro com detalhes em cerâmica e lápis-lazúli, como podem ver na imagem abaixo. Realmente bela e impressionante. Mais impressionante ainda são os sarcófagos, os três. A múmia era colocada no menor, o primeiro que podem ver nas imagens abaixo, o único (no original) todo de ouro maciço, ricamente adornado. Acachapante sua beleza, tal qual a da máscara. O seguinte, igualmente deslumbrante, o do meio, onde o menor era colocado; o maior, o douradão, onde os demais iam dentro, era, podemos dizer, "tosco", se comparado aos outros, feito de madeira negra trabalhada e todo revestido de ouro (o original), como o do meio. As réplicas ali, claro, eram de ouro de tolo.
Tem muito mais coisa, obviamente, como as estátuas gregas e romanas e as múmias egípcias, mas daí deixo pra quem for lá até o dia 30 conferir. A última imagem abaixo é uma peça que se refere à unificação do Egito, como vocês poderão saber assistindo atentamente a história contada no vídeo passado na sala imersiva. Recomendo.