Não é saudosismo e, tampouco, nostalgia. Nem mesmo aquela história de "ah, no meu tempo é que era bom". Não, nada disso. Até porque, hoje, a maioria das coisas estão melhores. Mas nem todas, e é aí que eu me refiro, no caso específico do Centro da minha cidade, zona em que vivo e interajo.
Quando o Banrisul (o prédio de dois andares, na foto acima) era do lado da rodoviária (o laranja, ao lado) e esta ainda existia, ah, que tempo bom de coisas boas e de facilidades. Saía de casa, ia no banco pegar uma grana, passava no guichê da rodoviária e comprava minha passagem com lugar marcado e antecipado e depois ia pra lancheria da mesma tomar um café, jogar conversa fora, no imponente prédio que o João Guerreiro de Souza construiu nos anos 1970. Como era um local fechado, não havia tempo ruim, nem chuva, nem sol, nem frio e nem vento. Conforto, comodidade e facilidades. Dava pra ficar de boa, cuidando a hora que o ônibus chegasse e estacionasse.
Primeiro, o banco trocou de local, foi pra perto da prefeitura. Menomale que ainda dava (e dá) pra passar no Bonatto, ali perto, na vinda, e já pegar uma grana no caixa eletrônico que ali fica. Só que daí inventaram o malfadado Terminal Rodoviário Metropolitano (está ao lado do prédio azul que se vê ao fundo). Daí sim, tudo mudou pra pior, bem pior para os usuários. Frio no inverno, sol no verão, vento em qualquer estação e, dependendo da força, chuva. O caixa funciona só pela manhã e, mesmo assim, não há mais lugar marcado, temos de ficar numa fila, em pé, torcendo por lugar. Falta total de comodidade e de facilidade.
Nem pros trabalhadores melhorou. Onde antes se empregavam funcionárias em turnos, agora é só uma vendendo passagem. Os cobradores dançaram, agora é tudo com os motoristas, sobrecarregados sem a devida compensação. Empregos sumiram, vê-se. Ah, tem duas coisas, justiça seja feita, que não mudou: os banheiros continuam a mesma bosta e os busões estão do mesmo jeito. Pra ir de Charqueadas pra Porto Alegre tudo piorou. Voltar está legal, pois a rodoviária da Capital ainda mantém todas as facilidades e comodidades, graças.
Contudo, ainda passo na lancheria da ex-rodoviária. Antes da pandemia tínhamos uma boa turma que lá se reunia pelas manhãs, a confraria do café com jornal sem carro. Hoje só resta uma dupla, de fé, mas somos só dois, agora, três vezes por semana. Uns se desarticularam depois da pandemia, outros partiram pra sempre. Agora, sim, estou sendo nostálgico e saudosista. Sinto falta do colorado Gilberto Bertolo, do gremista Nilo Tejada e do Itagoré Poglia, mas bah. Saudade desses caras.
Daqui uns anos espero que as coisas melhorem pro pessoal mais novo que usa os serviços do Centro. Não desejo que reclamem, no futuro, de que esse ruim de que hoje escrevo, seja o passado bom deles. Imagina? O pior é que as pessoas se acostumam com o pior no presente, esquecendo do que era bom no passado.