- Miau... Miau... Miau...
Acordo e tá ela lá, fitando-me com os olhos amarelos.
- O que tu tá fazendo aí, Coruja?
- Miau...
Demoro um pouco pra lembrar que, com a falta de luz, abri as janelas do quarto pra brisa fresca da chuva entrar e deitei um pouco. Acabei dormindo. Ainda bem que ela pulou pela janela pra me lembrar que a luz veio e era preciso escrever a crônica do Portal e levar a bebê pra tirar fotos de Natal. Valeu, Coruja. Se foi pra cozinha, pra baixo da mesa.
- Como estou só eu em casa, vou te te dar esse mole. Segredo nosso.
Bom, se a "Rainha da Feira" é charqueadense, o Rei da Feira é de Porto Alegre, o cronista Luis Fernando Veríssimo. A Rainha Maria Inês compra livros, enquanto o Rei os vende. É o recordista absoluto dentre os mais vendidos até 2002, ano em que a Câmara Rio-Grandense do Livro deixou de divulgar esse índice. Assim sendo, em 47 edições, LFV teve seis publicações como a mais vendida: O analista de Bagé (1981), Outras do analista de Bagé (1982), A velhinha de Taubaté (1983), A mãe do Freud (1985), Traçando Paris (1992) e Comédias da vida privada (1994).
Quem chegou mais perto dele foi Jorge Amado, com três mais vendidos: Os pastores da noite (1964 e 1965) e Farda, fardão, camisola de dormir (1979). Dos gaúchos, foi Josué Guimarães, com dois: Dona Anja (1978) e Camilo Mortágua (1980). Paulo Coelho também teve dois: O Alquimista (1990) e O Monte Cinco (1997). No total, foram quinze gaúchos e doze brasileiros como mais vendidos, o restante são autores estrangeiros. Destes, destacaria O advogado do Diabo, de Morris West, campeão por dois anos consecutivos: 1961 e 1962. Uma curiosidade: em 1998, o gaúcho Eduardo Bueno e o português e Nobel de Literatura José Saramago dividiram a preferência do público, com A viagem do descobrimento e O evangelho segundo Jesus Cristo.
Li tudo isso no livro que vos hipermegasuperultra recomendei ontem, o Almanaque da Feira do Livro 2024: 70 anos, de Rafael Guimarães. Volto a vos hipermegasuperultra recomendar: COMPREM! Por ele também vi que em 2000 e 2001 os mais vendidos foram, respectivamente, Pílulas para viver melhor, do Dr Lucchese, e Anonymus Gourmet, de Pinheiro Machado. Terá sido o motivo de deixarem de divulgar esse dado, a supressão da literatura por outros tipos de livro na preferência popular? Sei lá.
O fato é que o ano em que mais se vendeu livros na Feira foi em 2005, 530.975 exemplares, ao passo que tivemos 187 bancas em 2001 e 788 sessões de autógrafos em 2010. São os números mais expressivos obtidos nos 70 anos. Ano passado, foram 75 bancas e 211.616 livros comprados. Entretanto, avaliar e analisar os números da Feira ao longo das décadas é assunto para outro texto.
Buenas, crônica finda, hora de levar a bebê pras fotos.
- Sai daí e vai pra rua, Coruja. Passa!
- Miau! - protesta contra minha ingratidão.