Antes havia ali um pinheiro, onde os vagalumes apareciam a noite. Agora, em seu lugar, há um pé de butiá e os vagalumes desapareceram. Na varanda onde antes sentava um casal de velhos, agora está uma menininha soprando, feliz, bolhas de sabão, ante o olhar embevecido do seu pai. Só as hortênsias permanecem, intersecção entre passado e presente. A vida concreta acontece no presente.
Nós passamos, mas as casas ficam, abrigando sonhos renovados. Nossa casa, num sentido mais amplo, é comum e provisória: o planeta. As casas e o planeta nos acolhem e, da mesma forma, aos que virão depois da gente ou após aqueles que amamos. As pessoas renovam uma casa que passa a lhes servir de abrigo. Os velhos quadros saem da parede, que muda de cor. A churrasqueira assa cortes diferentes de churrasco e as cervejas no congelador são de outras marcas. "Tudo se transforma".
A casa adquire uma nova identidade, um presente diverso do passado da qual ainda corporifica lembranças. Por isso a gente não pode se apegar as coisas, eis que elas, de fato, não nos pertencem. Já foram na exposição sobre o Antigo Egito que está no Shopping Iguatemi, em Porto Alegre? Pois então, que engano aquilo tudo, a tentativa de levar para a outra vida os bens daqui. Nem o corpo, o que de mais nosso possuímos, nos acompanha. Nos diluiremos como pó no planeta.
O planeta, ele fica, para os próximos. Não podemos estragar nosso presente e o futuro dos que virão sendo egoístas. A vida ensina, assim como os evangelhos. Viva e deixe o seu legado, para proveito dos outros. Sejamos hortênsias na vida. E é isso.
Um bom final de semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, vão na Feira do Livro de Porto Alegre e fiquem com Deus.