Hoje faleceu um personagem frequente em minhas crônicas aqui no Portal, o charqueadense Walter Batista de Oliveira, uma pessoa única e muito querida que tive o privilégio de conhecer e conviver nesse plano físico. A foto acima foi registrada quando fomos na Arena em 2019. Meus sentimentos para toda a numerosa família Oliveira por essa sentida perda, principalmente para sua esposa, Iolanda, um casamento de 65 anos.
Como homenagem e lembrança, republico agora as três crônicas nas quais escrevi sobre ele, iniciando pela mais antiga. Fica com Deus, seu Walter. Dá um abraço em meus pais e tios quando os rever aí no paraíso.
SEU WALTER FOI NA ARENA AOS 88 (06 dez 2019)
Ontem era o último jogo do ano na Arena Grêmio. Gilmar e seu filho Matheus resolveram que era o momento de levar o pai e avô, Walter Oliveira, para conhecer o novo estádio do seu time do coração.
Só não pensem que o seu Walter, surpreendentemente lúcido e ágil aos 88 anos, é cristão novo no futebol. Não, mas claro que não. Ele foi no jogo inaugural do Olímpico, em 1954, aos 23 anos (coincidentemente a mesma idade de seu neto), quando ainda morava em Butiá, onde trabalhava como mineiro e tocava acordeom nos bailes junto com seu irmão Waltério, encantando moças como Iolanda, 12 anos mais jovem, sua esposa. Naquela cidade, antes de vir para Charqueadas, onde reside há décadas, levava os filhos para assistir aos confrontos entre Brasil e Butiá, eis que torcedor do primeiro. E gremista, sempre gremista.
Seu Walter ficou encantado com a Arena. E a Arena com ele. Seu neto publicou as duas fotos acima no Twitter, e elas tiveram 1k de curtidas, além de 100 compartilhamentos, 37 mil visualizações e 7 mil interações. Conversei com o seu Walter durante o Grêmio 2x0 Cruzeiro. Ele é a segunda pessoa de Charqueadas que foi no primeiro jogo do Olímpico com a qual eu já falei. A outra foi a saudosa dona Loivaci, da Banca do Povo. Pois bem, seu Walter, falando com sua voz calma e pausada, recordava do placar, 2x0, do time, o Nacional do Uruguai, e do goleador, Zunino, atacante uruguaio que jogava no Grêmio. Zunino estava, sim, naquele jogo, mas quem marcou os gols do Tricolor foi o centroavante Vítor.
Na verdade, há 65 anos, aquele longínquo Grêmio 2x0 Nacional era a primeira partida do Torneio Inaugural do Olímpico, do qual participaram também Liverpool do Uruguai e o Internacional dos tempos do famoso Rolo Compressor. O Grêmio fez 4x0 no Liverpool, mas depois levou um sacode daqueles do rival local, 6x2, ficando o Inter de Larri e Bodinho com o título. Zunino marcou dois gols no torneio, um contra o Inter e outro contra o Liverpool; assim, não sei o que traiu a memória do seu Walter naquela partida. A aparência dos atletas é que não foi. Embora os dois usassem bigode, o uruguaio era branco e media 1m70cm, enquanto o brasileiro era negro e chegava a 1m87cm.
Em 1954 eram 38 mil pessoas a lotar o Olímpico ainda sem o segundo anel, que somente seria concluído em 1980, por outro gremista que lá também se encontrava, Hélio Dourado. Ontem, estiveram na Arena 20 mil pessoas, estádio com capacidade para 55 mil torcedores. Hélio Dourado não estava lá, pois faleceu aos 87 anos, em 2017. Era contemporâneo do seu Walter. O primeiro nasceu em março de 1930, o segundo em janeiro de 1931 (*), mês que vem fará 89 anos. Zunino, Vitor, Bodinho, Larri, todos também já se foram. Assim, seu Walter é a história viva, testemunha ocular daquele fato importantíssimo na vida centenária de seu time.
Vida longa, seu Walter, gremista, mineiro e gaiteiro do Butiá.
(*) - Data oficial, pois na verdade seu Walter é de 1930
64 ANOS DE CASAMENTO (26 jul 2023)
Sabem o que é fabulita? Não? Nem eu! E não vou pesquisar o que é agora para escrever essa crônica. Mas é o que os tricolores Walter e Iolanda Oliveira completaram ontem, Bodas de Fabulita. De qualquer forma, isso é algo fabuloso, né? Ano que vem podem pedir nova aposentadoria, agora para receberem pelo casamento que completará 65 anos, idade limite na nova regra. Merecem ou não um outro salário por isso? Mas claro que sim!
Conheço-os há quase quarenta anos, são sogros da minha irmã. Ele tem 93 e ela 80. Conheceram-se em Butiá, onde o gaiteiro Walter formava dupla com seu irmão Waltério ao violão, tocando nos bailes e no coração da jovem Iolanda. Estão ainda juntos, cinco filhos, onze netos, seis bisnetos e um tataraneto depois. Walter largou a música, mas continuou tocando em eventos familiares. Quantas vezes acompanhei sua voz e sua gaita no violão, com minha mãe cantando junto. "O que tem a Rosa Tão desfolhada Foi o sereno Da madrugada". Bons tempos, mas bah, que baita saLdade. É a paciência e a calma em pessoa, o seu Walter, o mais fleumático dos fleumáticos. Desconheço outro igual. Já dona Iolanda é um pouco mais sanguínea, mas bem pouco, a querida. Formam um casal mega simpático. Até bem pouco ainda cantavam na igreja, durante a missa.
Todos os Oliveira tiram um som, mas gaita só o seu Walter toca. E tem mais: ele foi na inauguração do Olímpico, em 1954 e, em dezembro de 2019, junto com meu cunhado e um sobrinho, o levamos para conhecer a Arena (Seu Walter foi na Arena aos 88). Foi um privilégio e uma emoção. O levaria de novo hoje, se não fosse dia de jogo lotado e com previsão de novo ciclone, totalmente impróprio para sua idade avançada. Aliás, meu cunhado e sobrinho estão devendo essa nova ida a ele. Mexam-se, Oliveiras!
Com certeza o casal acompanhará hoje pela TV a partida semifinal pela Copa do Brasil contra o Flamengo, na Arena. Darão sorte para o Grêmio de Kannemann, Geromel, Luan e Suárez. Ano que vem, em julho, completarão bodas de ferro ou safira azul (existem as duas opções), metal e pedra que tem tudo a ver com um casal tricolor longevo como eles.
CASAL DE 173 ANOS NA ARENA (19 out 2023)
Em julho deste ano fiz uma crônica para o Portal de Notícias sobre as Bodas de Fabulita deste casal (64 anos de casamento!), cujos números são sempre grandes, devido a longevidade. Ontem, Walter e Iolanda Oliveira, respectivamente com 93 e 80 anos, foram junto com familiares na Arena Grêmio. Suas idades, somadas, dão 173 anos!
Para Iolanda foi a primeira vez na Arena, já Walter esteve lá em dezembro de 2019 (Seu Walter foi na Arena aos 88) - (1). Em sua biografia como torcedor gremista, consta o considerável fato de ter comparecido à inauguração do Estádio Olímpico, em 1954 - o homem é o que se chama de história ambulante. Estavam muito felizes na noite passada, mesmo com a derrota do Grêmio por 1x2 para o Athletico Paranaense. A propósito, seu Walter brincou com dona Iolanda, dizendo que o pé-frio era o dela, pois da outra vez que veio o Grêmio bateu por 2x0 o Cruzeiro MG.
O filho homem mais novo, Gilmar (59 anos), e os três netos (Vinícius, Matheus e Lucas) que os acompanharam não escondiam a emoção diante do privilégio de compartilhar o momento com o amado e longevo casal, pessoas da antiga, gente boa que construiu uma vida familiar e social exemplar, respeitada e frutífera.
Terminada a partida, uma certeza ficou: a de que voltarão em breve à Arena, a fim de esquentar o pé de Iolanda.
(1) - Seu Walter foi registrado bem após seu nascimento, sendo que na certidão consta como tendo 92 anos, embora, de fato, possua 93. Na crônica de 2019, usei sua idade "oficial".