João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos

Era só um gato preto?

 

A cadela cavou um buraco no terreno e depois matou um rato, deixando o corpo estendido no pátio. O terreno era fofo, enterrei o rato no buraco e tapei, com a enxada. Coloquei pedras por cima. Era apenas um rato, que a cadela matou, em vez dos gatos, que, por sua vez, tem matado muitos ratos, também. Não os comem, logo eu os enterro. O que sobra deles, destroçados. Com sei quem mata os ratos? Os felinos são mais brutais.

 

O gato preto da minha filha morreu. Pediu pra mim ir na casa dela enterrar o gato. Era grande e, o terreno, duro. O gato ainda estava mole, embora frio. Levei somente a pá de corte, antes tivesse levado a ponteira e a picareta, junto. Que trabalho deu abrir o buraco pro gato preto e mole, pra ser enterrado naquele começo de noite fria com vento e céu estrelado, assim como o do velório de um filho de um amigo, anos atrás. Chão duro, vermelho, resistente. A cadela, suponho, não faria buracos ali.

 

- A gente chora e fica triste, mas é só um gato, né? - disse-me a guria, lágrimas nos olhos. O gato era novo, pouco mais de dois anos.

- Não, era o teu gato - respondi.

 

Se pensarmos, tudo é somente aquilo que é, passageiro neste mundo: uma cadela, um rato, um gato, uma criança palestina, uma criança judia, uma criança ucraniana, uma criança russa e assim por diante. Que diferença faz? Dependendo de como tu penses, nenhuma; ou, então, única. Na verdade, todos são únicos, embora finitos. Quando os pedreiros taparam o túmulo de minha mãe, era só uma velha que eles sepultavam. Quatro meses depois, com meu pai, era só um velho, pelo qual as pessoas na volta choravam até irem embora, pra eles poderem terminar o serviço e irem pra casa, também, para junto dos seus gatos, cachorros e pessoas novas e velhas que lhes são, todos, mui caros.

 

Tapei o gato com a terra, soquei e coloquei pedras por cima, para evitar que os cachorros pudessem cavar, eis que, para eles, era só um gato preto morto e enterrado. Cachorros, gatos e homens cavam buracos, por motivos distintos. Um dos cachorros foi do meu pai e, logo, não é qualquer cachorro, pois foi o cachorro do meu pai, que andava com ele pelas ruas.

 

Fui pra casa. No outro dia choveu. A gata estava na janela, miando, querendo entrar e comer. Não era só uma gata na janela, era a minha gata. Não era só um gato preto, seu nome era Chris e não será esquecido, pois era de alguém e tinha alguém que o cuidava e alimentava.

 

Um bom final de semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, ajudem os atingidos pela enchente, vivam e fiquem com Deus.

 

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 30/08/2024
Alterado em 30/08/2024
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