Coincidências.
Sábado passado fui num aniversário de um aninho. Gostei muito de ter ido, primeira filha de um rapaz que conheci ainda bem jovem. Cheguei um pouco depois do início e minha família já estava sentada ao redor duma mesa, junto com um casal trintão e suas duas filhas.
Fomos socializando e, conversa vai e vem, meu sogro disse que conheceu o pai dele. Respondeu que seus pais morreram em 2021, de Covid-19, com diferença de quatro meses um do outro. Surpreso, disse que os meus igualmente faleceram em 2021 e também com quatro meses um do outro, só que não pela pandemia, mas de complicações da diabetes e câncer de pulmão. Nos conectamos na experiência dolorosa de nossas perdas, coincidentemente tão similares. No caso dele, seu pai morreu primeiro, aos 78 anos, depois a mãe, aos 72. Ficou uns dois meses intubado, a mãe resistiu quase duas semanas; a minha se foi no início de setembro, aos 77, e o pai no finalzinho de dezembro, aos 85.
Falamos sobre ver a casa dos pais vazia, o que ele faz seguido por residir nos fundos do terreno, enquanto eu não, por ela ser em outro bairro, uns três quilômetros distante. Não superamos, ainda. Estamos em processo de, devido a exígua passagem de tempo. Meu sogro, 79 anos, confidenciou que seguido ainda pensa no dele, que morreu em 1977. Cada um tem o seu tempo de luto, mas convergimos no ponto de que a perda assim, uma em cima da outra, abala bastante e torna difícil a superação.
A mãe faleceu e comecei a focar no pai, nas suas necessidades e na proximidade de seus 90 anos, visto ele ser um cara forte. Mas não tão forte assim que não pudesse perecer em apenas quatro meses após o diagnóstico. Ainda teve tempo de conhecer a bisneta e segurá-la no colo. Foi estoico, mas não dissemos pra ele o que de fato era, embora não fosse tolo e se desse conta da gravidade da coisa. Penso que, inclusive, usava propositalmente essa incerteza no intuito de enganar a si mesmo, driblando assim a angústia até os momentos finais.
Meus pais partiram com as pessoas em volta, o pai chegou a dar cartões de Natal para os familiares e esteve na ceia. Era forte e estoico, mesmo. Foi um bravo na finaleira. Os pais do outro faleceram sozinhos, no hospital, daquela forma que todo mundo sabe como foi durante a pandemia.
O casal foi embora mais cedo, trocamos um olhar de entendimento.
Ah, as coincidências da vida.
Quem diria?
Justo num aniversário de um ano, anterior ao Dia dos Pais.
Era pra ser.
O motivo, não sei.
Só desconfio...