João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Trottoir em Porto Alegre

 

Ontem fiz um trottoir (1) pelas ruas de Porto Alegre, flaneando pelo seu Centro Histórico, há pouco devastado pela enchente, com o espírito de um Pequeno Príncipe de Exupéry, indagando-me e refletindo sobre as coisas, o mundo e a vida. Aliás, ontem fez 80 anos da morte do grande escritor francês, que comeu churrasco na Capital e bebeu refrigerante pelos cafés na Rua da Praia, na época em que ainda não era famoso na Literatura, mas sim conhecido por ser um aviador dos desbravadores correios aéreos franceses.

 

As marcas da água nos prédios da Mauá, os sebos fechados, os bancos inoperantes. Rodoviária, Mercado Público, Rua da Praia, shopping (único local onde havia caixas eletrônicos), Casa de Cultura Mário Quintana (fechada), ruas General Câmara e Riachuelo. Os sebos da Rua da Praia estavam abertos, mas as livrarias Taverna e Paulinas, não. Na Câmara e Riachuelo, todos os sebos abertos. Livros, adoráveis livros, muito bom estar entre eles e levar alguns pra casa para o respectivo deleite literário acompanhado de um bom café com pão francês torrado.

 

Por Alegre é uma cidade bem francesa, sua arquitetura mais antiga o demonstra, bem como a influência da literatura francesa entre nossos escritores de antanho. Mário Quintana, por exemplo, que traduzia para a Livraria do Globo obras em francês, como O Pequeno Príncipe. Quintana escreveu aquele poema maravilhoso e mui conhecido, O Mapa: "Sinto uma dor infinita Das ruas de Porto Alegre Onde jamais passarei... Ha tanta esquina esquisita, Tanta nuança de paredes, Ha tanta moca bonita Nas ruas que não andei (E ha uma rua encantada Que nem em sonhos sonhei...)". Pensava nisso enquanto andava, pois Porto Alegre é enorme. Já Charqueadas, que não está "longe demais da capitais", dá pra conhecer todas suas ruas, principalmente de bicicleta.

 

"Nas pegadas das minhas botas Trago as ruas de Porto Alegre E na cidade dos meus versos O sonho dos meus amigos", aquela canção do Bebeto Alves igualmente afluiu de minha memória. Já fiz versos, dentre os poucos que me atrevi a cometer, sobre Porto Alegre, mas os sonhos dos meus amigos ficam em Charqueadas, onde eles moram. Compartilhamos N experiências e vivências sobre a Capital, todavia não somos dela nativos.

 

Um café com pastel na Rua da Praia, ao lado do sebo, em frente a Casa de Cultura. A atendente conversava com a cozinheira, lendo para esta uma matéria sobre isenção de IPTU para os atingidos pela enchente, direta e indiretamente. A capital ainda não curou as feridas - algumas permanecem abertas -, ainda não há cicatrizes, logo, a preocupação das pessoas ainda é com os curativos. Ainda...

 

E eu por ali, flanando com meus livros, no trottoir. A D O R O livros. Ah, ia esquecendo: comprei uma edição de capa laranja do Caderno H, de Quintana, há muito procurada.

 

 

(1) - Trottoir, aqui, é usado em seu sentido de andar despreocupadamente pelas calçadas de uma cidade. Há outras acepções, menos dignas, por isso faço a devida ressalva.

 

 

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 01/08/2024
Alterado em 01/08/2024
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