A vida está nas ruas da cidade e as redes sociais podem trazer alguma coisa das ruas para o debate público. O que importa mesmo, pra mim, é a rua, é o contato olho no olho, o nariz sentindo e o ouvido escutando. Nada substitui a rua, a interação social. Andar de bicicleta é uma atividade inteiramente presencial, concreta, rua pura.
Pois um amigo do Face, o Paim, criticou em sua linha do tempo que as pessoas não pedalam pela ciclovia em Charqueadas. Esse debate é velho na Cidade-Em-Que-As-Pessoas-Não-Andam-Nas-Calçadas. No caso da ciclovia a explicação é óbvia e volto a repetir: o calçamento que colocaram ali (observem na foto, os blocos de cimento) é inadequado para as bicicletas, pois eles, com o tempo, trabalham, deslocando-se e deixando a via irregular, causando uma trepidação quase insuportável para os ciclistas. Nem o pessoal que dá uma corridinha a usa para não correr o risco torcer um pé.
Uma ciclovia tem de ser asfaltada ou ter um pavimento liso, tipo saibro ou mesmo um chão bem batido. Pedras e blocos nem pensar! Pois esse é justamente o problema da ciclovia de Charqueadas. Quem duvida, que pegue uma bicicleta e vá pedalar nela. É uma pena isso, pois se trata de um trajeto importante da cidade, hoje praticamente utilizada apenas pelos caminhantes. E, por falar neles, vamos agora a outra parte do problema.
Como Charqueadas é a Cidade-Em-Que-As-Pessoas-Não-Andam-Nas-Calçadas, mas pelas ruas, isso afeta também as ciclofaixas asfaltadas. Em primeiro lugar, as calçadas em Charqueadas não oferecem condições, na maioria dos casos. Seja por árvores plantadas no meio das mesmas, pela irregularidade do terreno ou pela péssima conservação, não há como caminhar sobre, restando às pessoas somente a rua mesmo. Em segundo lugar, as ciclofaixas são, desta forma, utilizadas pelos pedestres para deslocamento. Seguido pedalo pela Vila Piratini ou pelas ruas laterais a Câmara de Vereadores e tenho de disputar, nas ciclofaixas nelas delimitadas, espaço com os pedestres. Como há o costume estabelecido de caminhar pela rua, até onde há um trecho de calçada em bom estado as pessoas, em boa parte, o ignoram. Resta aos ciclistas dividir espaço com os carros.
Pelo Código Brasileiro de Trânsito, o ciclista pode usar as vias públicas da cidade da mesma forma que os carros e respeitando as mesmas regras, andando no mesmo sentido do fluxo do trânsito e próximo ao meio-fio. Entretanto, em casos onde as calçadas inexistem ou são inviáveis, lá estão os pedestres. Essa é a situação de Charqueadas. Claro, existem ciclistas que pedalam sem regra e sem lei, não respeitam as faixas de segurança para os pedestres e, até, chegam ao cúmulo de pedalar sobre as calçadas, colocando em risco as pessoas. E inclusive, como bem observou Paim, aqueles que ainda ignoram a ciclofaixa desimpedida e trafegam pelo meio da rua, fora outras barbaridades cometidas.
Como estamos em ano eleitoral, caberá aos postulantes ao Executivo e Legislativo dizer como poderemos: 1 - arrumar as calçadas; 2 - mudar o pavimento da ciclovia; 2 - aumentar o número de ciclofaixas na cidade; 4 - educar e fiscalizar pedestres e ciclistas. Não vejo outro caminho para resolver este problema crônico que faz de Charqueadas a Cidade-Em-Que-As-Pessoas-Não-Andam-Nas-Calçadas.