Estava com a bebê na sala, ajudando-a a desenhar sonics e manics e a tampar as canetas coloridas. "Não sou bebê, sou menina". Ah, tá, desculpe: menina.
Repentinamente a menina diz que vai no banheiro fazer cocô. Ainda usa as fraldas, fiquei surpreso com a atitude inesperada, mesmo que um trabalho familiar venha sendo feito sobre. Chamei a especialista em "desfraldar" crianças aqui em casa, minha esposa. Colocou a menina no vaso sanitário, sentada no adaptador. Fez sinal pra gente sair, queria privacidade a pequena. Deixamos a porta do WC aberta e, da sala, escutamos o barulhinho dos cocôs caindo na água. Voltamos, orgulhosos, fazendo festa pra menina. "Ai, não grita" - pediu, tapando os ouvidos com as mãos. Fotinhos pro grupo da família no whats, eis que a mais nova Guerreiro já sabe lidar quase sozinha com as merdas que faz.
Ah, um cocô, devemos agradecer a todo o cocô nosso de cada dia, pois quando a bebê nasceu uma médica disse que ela poderia ter um problema que a impediria de vacuar. Ufa, graças a Deus, diagnóstico errado, mas o susto foi enorme. De qualquer forma, a conquista da pequena menina deveria ser comemorada. Coloquei-a no banquinho da bicicleta e fomos pra pracinha do Parcão, aproveitando a tarde quente e ensolarada da terça, veranico de inverno.
A menina estava no balanço quando chegou um casal com uma senhora e uma criança: avó, filha e neta. Reconheceram a bebê: a criança nasceu no mesmo dia que ela, no hospital de São Jerônimo, duas horas depois. Então estavam as duas ali, lado a lado novamente, no dia em que a menina deu a mais importante cagada de sua vida. A companheira de maternidade ainda usava fraldas também, reparei. Preferi manter em família o grande feito da menina.
Foram tantas as emoções no dia que ela cansou e dormiu no balanço. Chegou em casa e larguei direto na cama, só acordou à noite. Durante o jogo do Inter, novamente desenhava sentada no chão da sala. Quando o time do Rosário fez um gol, pediu pra ir ao banheiro outra vez. Mais cocô! "Ai, não grita". Já tá craque a menina, sabe tudo de vaso sanitário agora, até a descarga deu.
Que encantadora maravilha o milagre que a vida é. Adultos encantados e felizes com a benção e o aprendizado que um cocô é para um pequeno ser humano em adaptação ao mundo. Escreveram no grupo da família: "E pensar que um dia esse cocô foi motivo de tanto nervoso"; "Criança é tudo de bom, nos ensinam a felicidade de coisas cotidianas. Quantas bênçãos um cocô no vaso encerra".