Quase todo mundo no Brasil tem um pé na África e outro na Europa - os índios, nativos, foram quase dizimados. Aqui no Rio Grande do Sul, o pé europeu calça um sapato português, alemão ou italiano, majoritariamente. Fora os lusos, "descobridores" do Brasil, os gringos chegaram há quase 150 anos, enquanto os alemães vieram primeiro para o solo gaúcho: 200 anos hoje.
A data oficial em que se comemora a chegada dos primeiros colonos alemães é 25 de julho, mas cabe informar mais precisamente que nesse dia eles já estavam por aqui, pois 25 é a data em que os colonos se instalam nas terras concedidas pelo Império Brasileiro em nosso estado. Chegaram mesmo foi no dia 18 de julho. Leiam o discurso abaixo, proferido pelo professor Telmo Lauro Müller na abertura do Simpósio de História da Imigração Alemã no RS, realizado na Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, em São Leopoldo, em setembro de 1974, em comemoração ao Sesquicentenário da Imigração Alemã:
"Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre, 18 de julho de 1824.
No Palácio do Governo da Província de São Pedro do Rio Grande, um lacaio bate à porta do gabinete do Sr. Presidente, José Feliciano Fernandes Pinheiro, e lhe comunica que acaba de atracar no cais do Guaíba o bergantim PROTECTOR, trazendo os primeiros imigrantes alemães. O Sr. Presidente apressa-se em recebê-los e desce célere a Ladeira, oferecendo aos alemães nossa característica hospitalidade, (...). Poucos dias depois de sua chegada, os imigrantes são levados ao seu destino".
Pesquisando sobre o assunto, encontrei na Biblioteca Municipal Vera Maria Gauss, em Charqueadas, o livro Anais do 1º Simpósio de História da Imigração e Colonização Alemã no Rio Grande do Sul (foto acima), onde, na página 13, está o discurso acima. Um excelente material de 373 páginas disponível para consulta e empréstimo aos interessados.
Como escrevi no início, quase todo mundo tem um pé na Europa, e o meu é de portugueses dos Açores (famílias Souza, Velho, Lemos e Guerreiro) e de alemães que vieram do então Reino de Württenberg, no sudoeste da Alemanha, mais precisamente do pequeno povoado de Laudenbach. Tratam-se dos irmãos José e João Jorge Raupp, que desembarcaram acompanhados, respectivamente, pelas esposas Christina Weber, Apollonia Kuhn e pelos filhos. Estabeleceram-se em Torres:
"De acordo com informações extraídas dos documentos oficiais existentes, os Raupp chegaram ao Rio de Janeiro em 4 de agosto de 1826, integrando a décima e última leva de colonos alemães que emigraram para o Brasil naquele ano. Viajaram a bordo da galera bremense Friedrich, a qual partira do porto de Bremen, na Alemanha, em primeiro de junho, sob o comando do Capitão Hans Christian Stille. No dia 29 do mesmo mês partiram para Porto Alegre, na sumaca Generosa, chegando ao Rio Grande do Sul na segunda metade de setembro do mesmo ano. Nos primeiros dias de novembro, partiu de Porto Alegre uma grande caravana levando o grupo de imigrantes em direção à nova colônia a ser fundada no litoral norte do Rio Grande do Sul. A primeira parte da viagem, feita em cinco iates, saiu de Porto Alegre pelo Rio Guaiba, passou por Itapuã, entrou na lagoa dos Patos e chegou, dois dias após, à embocadura do rio Capivari. O trecho seguinte, por terra, foi feito em carretas. Após longo e penoso percurso, a caravana chegou à vila de Torres no dia 17 de novembro de 1826" (1).
Posteriormente, um casal de irmãos descendentes dos Raupp veio para a cidade de Mostardas, onde casaram-se com um casal de irmãos da família Velho, passando a morar nesse município. Eis a origem de minha avó paterna, Maria Raupp Velho (nome de solteira), nascida em Mostardas, Raupp pelo lado materno. Meu pai era muito cioso da ascendência germânica de sua mãe.
Era isso. Dia 25 de julho voltarei ao assunto.
(1) - Breve História da Família Raupp. Raupp-Flats. Disponível em https://www.rauppflats.com.br/historia