É tarde,
a lenha arde,
o frio evade
de dentro da casa.
A paz,
o bem-estar
vem me encontrar
no calor da madrugada.
E penso,
neste momento,
feliz por dentro:
A vida é abençoada.
A chama
inflama,
emana,
afaga.
Mas bah, o calor gostoso do fogão a lenha me fez tão bem que até virei poeta! Sozinho na peça aquecida, enquanto os outros dormem, sou o senhor das chamas, o rei do fogo, a lenha é minha amiga. Olho o frio lá fora pela janela de vidro hermeticamente fechada, como zombando deste por estar de camiseta.
Estar de boa requer condições para tal. Estar vivo e bem, ter a casa, o fogão, a lenha e o tempo disponível. Aqueço a água para passar o café, torro o pão. Prefiro o fogão ao ar condicionado. Fogão no inverno, sombra e ventilador no verão, os recursos naturais são mais agradáveis ao corpo. Além do que a chama é bonita e o crepitar é acalentador. As vezes assisto na TV um canal onde os caras filmam uma lareira por, sei lá, uma hora. É bonito, mas não é a mesma coisa, óbvio. Não tem calor, só cor e movimento, mas tudo frio. Nem o gato se impressiona.
E estar bem assim num dia de inverno é uma dádiva, não podemos esquecer. Lembro do David Coimbra, numa de suas últimas crônicas, já doente, escrevendo que não queria estar dentro do seu corpo, que este se tornara seu inimigo. A minha mãe dizendo que queria apenas ser colocada num lugar onde se sentisse bem e confortável, mas não havia, pois seu corpo era o problema. O meu corpo, agora, é a solução e isto é uma baita duma benção.
Levanto para buscar mais lenha para a chama.