João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos

Cotidiano

 

Nesses tempos pós enchente, nem sempre o jornal chega, embora as notícias continuem rolando. Logo, tu tem de te virar nos trinta pra não ficar de bobeira e ser passado pra trás. São várias os caminhos e todos eles cheios de pedras, como escreveu o poeta; pedras que rolam, como cantou o roqueiro chapado.

 

Tanto faz o horário que tu vai beber. "Bebendo já a essa hora?" vão dizer uns caras que não vão te pagar uma bira, nem carregar o teu caixão e até podem nem gostar de ti, só tão falando pra te encher o saco mesmo. Ah, que se danem. Se tu é bêbado, qual diferença vai fazer o horário em que tu começará a encher o tanque? E se tu não é, apenas vai socialmente, menos diferença ainda fará, cada louco com seu gosto. Então, de qualquer jeito, se estiver a fim duma cangibrina logo pela manhã, ah, vai nessa, vivente. Os caras não tomam café-preto e chimarrão nessa hora? Então.

 

Agora, não dê uma de guri ou de mané, fazendo grau tomando ostensivamente Red Label pra dizer que é gente, tem estilo e é descolado. Cara, estará fazendo justamente o oposto disso e os caras e - o pior - as minas vão rir da tua cara pelas tuas costas ou - ainda pior - na tua frente, sem nenhum repeito, consideração ou piedade de ti. Não pague de otário, mas, se for pagar, que pelo menos seja com um Chivas Royal Salut, que daí, pelo menos, eles verão que tu é um mané com grana e pensarão duas vezes antes de rir na tua cara pra não passarem por invejosos.

 

Grana. Tudo é grana nessa vida. No passado era melhor, pelo menos pra tirar carteira de motorista, tu não morria com uma nota preta na mão dos caras. Agora tudo é grana, até as praias os caras vão privatizar mais ainda do que já é, na moral. Vão oficializar as coisas de vez. Até aqui por Charqueadas já foi melhor do que tá. Antes eu ia no Banrisul que ficava perto da rodoviária, pegava uma grana, tomava um café na lancheria da rodoviária, lia um jornal, comprava uma passagem com lugar marcado e esperava sentado no prédio, sem passar frio no inverno ou pegar sol forte no verão em fila. Agora tudo mudou pra pior e eu não ganho nada com isso, mas com certeza tem alguém ganhando, e muito. Até com os cobradores os caras defenestraram, passou a ser tudo com o motora, que não passou a ganhar por dois, claro.

 

Daí o cara chega de bicicleta em casa, suado, vindo do treino e não tem água. O negócio é ficar fedido e entocado, pois ninguém merece o teu fedor. Pelo menos é por um bom motivo, estão concertando algo pela cidade. Legal, tri. Todavia, tem luz e as guitarras, assim como as bicicletas, não exigem CNH.

 

Veio a água! Banho, finalmente.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 05/06/2024
Alterado em 05/06/2024
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