João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Salve a solidariedade que nos salva!

 

O dia amanheceu lindo. Frio, mas com um sol brilhante e quente, e sem vento. As águas pararam de subir ontem nas primeiras horas da manhã e hoje o Jacuí já baixou um bom bocado. Ontem voltou a chegar na calçada da casa do Caquinho, no número 67 da rua Distrito Federal (imagem acima), mas agora desceu novamente pra rua. O prédio do antigo Hotel Beira Rio ficou ilhado, mas desta vez não foi invadido. Salve!

 

O rio chegou aos 9,64 metros e baixou (neste momento, está a 9 metros), passando, desta vez, longe dos inacreditáveis 11,32 metros no pico da enchente - minha casa ficou 3,68 metros acima deste nível tenebroso -, que superou 1941. A chuva voltará amanhã, embora a previsão do tempo, coisa boa, diga que não terá o mesmo peso dos dias anteriores. Agora é ajudar as pessoas. Quem puder, ajude como puder. É isso. Tanto fazer o bem sem olhar a quem ou a quem se conhece a necessidade. Tanto faz, ajudar é um caminho pelo qual se anda por muitas vias benfazejas.

 

O pessoal da prefeitura trabalha recolhendo o lixo acumulado, que é colocado em caminhões e depois despejado lá atrás da Cancha de Carreira, na São Lourenço. Chamo de lixo, mas aquilo é parte da vida de muita gente, uma parte para sempre perdida, algo dolorido de se testemunhar. Realmente, não levamos nada deste mundo - tive certeza disso quando vi o corpo de meu pai, em 2021 -, mas o que perdemos, estando nele, são preciosidades neste plano físico. Quantas fotos antigas de família, irrecuperáveis? Isso só pra citar um exemplo numa miríade de perdidos, dentre coisas uteis ou simbólicas, todas necessárias e queridas. Temos os que perderam literalmente tudo, fora a vida e a roupa que vestiam.

 

Uma grande quantidade de pessoas atingidas pela cheia faziam fila lá no Parcão, junto ao "Prédio das Bandeiras", para o recebimento de cestas básicas. Na Igreja Nossa Senhora Aparecida, na Cohab, voluntários recolhiam roupas e alimentos e preparavam comida. Uma voluntária me disse que ali "só" davam a janta, pois noutros lugares ofereciam o café e o almoço. Coloco esse "só" entre aspas por ter lembrado de ler num livro de Bukowski que ele passou um bom período de sua vida tendo somente a janta por refeição, feita em uma instituição de assistência social. Um grande trabalho fazem ali, mas bah, salve!

 

Um outro voluntário informou que eles precisam mais no momento de doações de leite e de achocolatados, para as crianças. No Bonatto havia leite, mas não muito, e somente os das marcas mais caras. Na grande parede onde ficam os laticínios, pra não dizer que não tinha nada, só alguns potes de margarina ainda disponíveis. De resto, ainda muita coisa pra comprar no supermercado. Não fui ver como estava a coisa nos outros.

 

A água do rio Jacuí, desde ontem, está limpa, em contraste com a turva e barrenta dos outros dias. Bom sinal de esperança para os dias melhores que virão. Somos onze milhões de gaúchos, quase 700 mil foram desabrigados. É mais gente pra ajudar do que para ser ajudada, isso ainda se levando em conta os demais 200 milhões de brasileiros que nos ajudarão, além dos governos federal, estaduais e municipais, ongs e empresas. Salve!

 

Claro, existem os oportunistas e aproveitadores, sem escrúpulos em levar algum tipo de vantagem na situação, que são a parte do lixo que a enchente traz à tona ao subir, par daquele que deixa para trás quando o rio desce. Terão oportunidade de evoluírem e crescerem, em algum momento, na grande escola que a vida é para nós todos, criaturas imperfeitas em aprendizado, ao tomarem consciência das coisas importantes e se afastarem do egoísmo e da vaidade.

 

Graças que são minoria ante essa multidão solidária, que dá ao próximo o máximo de si. Salve a solidariedade que nos salva!

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 15/05/2024
Alterado em 15/05/2024
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