Numa certa manhã fria de outono por esses dias, o relógio digital da Prefeitura de Charqueadas marcava 08:59h, enquanto o do Sicredi marcava 08:21h. Adoro o relógio do Sicredi e a pracinha florida onde ele fica, mas não gosto de bancos e, tampouco, de prefeituras. O relógio de dígitos verdes do Sicredi estava certo, enquanto que o de dígitos vermelhos da prefa, errado.
Prefeitura me lembra incomodação, coisa que detesto, não é o meu perfil o de ter de descascar abacaxis todo dia para $obreviver, podendo estar fazendo outra coisa. Não esqueçamos que precisa ser eleito, há que se fazer força para ser prefeito, coisa, portanto, tanto de vocação quanto de destino. "Mamãe não quero ser prefeito, pode ser que eu seja eleito" - Raulzito. De Câmara de Vereadores eu já gosto, é um lugar de conversa e de troca de ideias, o que compensa a incomodação. Mas não esperem me ver candidato a algo. Respeito os que abraçam esse sacerdócio e esse tesão - suponho que exista tesão nisso, o do poder, sei lá -, mas estou fora.
Banco é um mal necessário, pelo menos pro sistema capitalista. Mas será que existe algum sistema que não possua banco? Só vou lá por extrema necessidade, assim como posso contar nos dedos das mãos as vezes que entrei na prefeitura nos últimos 22 anos. Prefiro as pracinhas e os seus bancos, tomando chá, do que tomar chá de banco nos outros. Nada assim militante contra prefeituras e bancos, só não curto, da mesma forma como gosto de verde, rosa, azul e amarelo, enquanto o marrom me é indiferente. Não é a minha praia - nada contra Capão, mas prefiro Torres.
Tem uma hora certa e uma hora errada, pela convenção. Fora das convenções utilitárias do cotidiano, toda a hora é certa. Como as farmácias são 24 horas, aposentado só precisa de hora certa pra ir no banco e na prefeitura, desta forma todas as horas do dia são suas. Ah, tá, pra ir no posto de saúde, pra tomar remédio - velho rima com remédio - e pra ver jogo da dupla Grenal também precisa ter a hora certa. Hora certa, bancos, remédios e prefeituras são necessários.
Há uma hora certa pros principais eventos da vida? Nascer, casar, reproduzir e morrer? Não, levando-se em conta ainda que a gente nem escolhe a hora de nascer e, fora os suicidas, a de morrer. Podemos, em parte, escolher a hora de casar e a de reproduzir, embora pra isso igualmente precisemos da concordância e da parceria de outra pessoa. Logo, qual hora é a certa? Não sei. Você sabe?
O que sei com certeza é que gosto do relógio do Sicredi e da pracinha florida e que o verde é a minha cor predileta - adoro alface. Sem tempero algum. A qualquer hora.