João Adolfo Guerreiro
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Textos

Os EUA e o Golpe de 64

 

No meu texto anterior, Ditadura e tortura nunca mais, fiz um breve apanhado restrito ao âmbito nacional destacando alguns aspectos civis e militares que conspiraram para que o Golpe de 1964 no Brasil. Hoje, quero escrever sobre o outro braço que gestou e desferiu o golpe: a participação decisiva dos Estados Unidos da América - EUA.

 

No geral, o que levou os EUA a ajudar na articulação e efetivação do golpe? A Guerra-Fria, que separava os blocos liberal e comunista no período posterior à Segunda Guerra Mundial, o primeiro sob a liderança dos EUA e o segundo pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas - URSS. Por influência do embaixador do país no Brasil, Lincoln Gordon, o presidente John Kennedy, em 1962, autorizou a articulação, conforme comprovam documentos e gravações da época liberados no início dos anos 2.000 pelos EUA ( vide o documentário O dia que durou 21 anos, de Camilo Tavares, 2012). Para tal, foi trazido da Itália para ser adido militar na embaixada no Brasil o general Vernon Walters, que muito conhecia os militares brasileiros por ter atuado com a FEB na Itália, principalmente com marechal Castelo Branco, que se tornaria o primeiro presidente do golpe, indicado por Walters.

 

Para garantir o sucesso da conspiração, Gordon solicitou que uma frota fosse enviada para o litoral brasileiro, para realizar uma ação armada contra tropas legalistas, caso o presidente João Goulart optasse por tal. Entretanto, o porta-aviões, os quatro contra-torpedeiros, os cruzadores e os navios-tanque, receberam ordem de voltar quando o golpe se deu sem resistência, abortando a denominada Operação Brother Sam. Os estadunidenses, assim que reconheceram o governo militar, enviaram a conta com os custos da frota para estes, mas o embaixador Gordon interviu para que nada fosse ressarcido aos cofres dos EUA. Até um padre estadunidense foi envolvido na ação, Patrick Peyton, que veio para participar da oposicionista Marcha da família com Deus pela liberdade, em São Paulo, em 18 de março de 1964, 14 dias antes do golpe.

 

O golpe brasileiro não foi um fato isolado da Guerra Fria na América Latina - AL -, eis que quase todos os países do continente passaram por situações análogas no período, sempre com um dos braços sendo os EUA visando impedir qualquer experiência de cunho socialista no "seu quintal", depois da Cuba de Fidel Castro e Che Guevara. Só que os gaúchos que controlavam o país há tempos, Getúlio Vargas e João Goulart, eram estancieiros de São Borja, tão próximos do comunismo quanto Renato Portaluppi do Inter. Entretanto, eram tempos de paranoia política e ideológica, e o democrata Kennedy preferiu não arriscar. Somente no governo do também democrata Jimmy Carter é que os EUA influenciariam na abertura política na AL, o que fez a Ditadura Militar arrefecer no Brasil e preparou-se o terreno para a redemocratização, durante o governo do general João Figueiredo.

 

Em 2022, a articulação golpista militar tentada pelo ex-presidente de extrema-direita se deu em outro contexto e gorou, mesmo que faça parte dos grupos que invocam o fantasma do comunismo e da Guerra Fria do museu da política no mundo, como o trumpismo estadunidense. Aliás, é pertinente pensar, caso o republicano Donald Trump tivesse vencido as últimas eleições no Estados Unidos, se a intentona golpista de 8 de janeiro de 2023 não teria recebido seu apoio? Inclusive foi feita no mesmo dia da presepada turmpista no Capitólio, um ano antes! Só que foi o democrata John Biden quem venceu...

 

Além dos militares legalistas do Exército e da Aeronáutica, que se colocaram contra a versão 2022 do golpe, várias forças políticas liberais de centro e de direita, setores do Judiciário, grupos religiosos, midiáticos e empresariais se colocaram contra a reeleição do então presidente em 2022 e contra a intentona golpista em 2023. O Brasil não estava mais em 1964. Que nunca mais a estar.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 03/04/2024
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