João Adolfo Guerreiro
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Nunca saberemos o que foi que matou Álvaro Ventura?

 

Nunca saberemos o que foi que matou Álvaro Ventura? Sim, pois, pelo estado do corpo, tanto pode ter sido gente quanto bicho, mesmo que gente também seja, tecnicamente, bicho. O fato é que o mistério persiste, mesmo com todo o avanço da ciência.

 

Álvaro Ventura foi comido e, posteriormente, defecado. Por gente ou por bicho? Por ambos, por bicho-bicho e por gente-bicho. Se sabemos quem o vacuou, persiste a dúvida: o que o matou? Sabemos só que deu merda humana e animal, embora o ser humano também seja um animal. Racional, que, por vezes, atua com irracionalidade.

 

Se descobríssemos quem, saberíamos, por certo, o que matou Álvaro Ventura, o desventurado. Desventurado em morte, pois em vida teve sorte. Viveu, bebeu, comeu, vacuou, viajou, amou e transou embaixo de uma cachoeira. Isso tudo se tem por certo que ele fez, logo, teve uma vida boa. Quem poderá dizer que teve uma vida ruim se transou embaixo de uma cachoeira? Tu já transou embaixo de uma cachoeira? Eu não. Dentro d'água já, na Praia do Encontro - Ah, Jacuí! -, mas embaixo de cachoeira, nunca. Não é todo mundo que pode dizer que já transou embaixo duma cachoeira. Precisa a cachoeira, a oportunidade e a parceria. Pois Álvaro Ventura teve tudo isso e aproveitou. Amou e transou. Tem gente que ama e não transa. Uns por opção, como os padres, e outros por falta de opção. Álvaro amou e transou. Embaixo de uma cachoeira.

 

Certa feita, viajou pra Europa, mais precisamente para Portugal. Foi ver o passaredo pelos portos de Lisboa, como na canção. Poderia ter ido pra França, visitar Paris, pois falava francês, mas a grana não deu. Na ocasião, comprou - e leu - um livro de poemas de Fernando Pessoa. Achou Pessoa chato, mas nunca contou pra ninguém, eis que não desejava ser tomado por ignorante ou revelar o seu mau gosto literário. Lá conheceu uma lusitana chamada Marina Joaquina, a quem amou. Amou-a, mas não transou. Sim, não foi Marina a sua parceira na cachoeira, essa foi Maria Aparecida, sua amante. Sim, Ventura era um incorrigível pulador de cerca. Recitava poemas em francês para Aparecida, que não entendia nada, mas achava o máximo do charme isso.

 

Marina Joaquina deixou Álvaro Ventura por um homem chamado João Pessoa, vejam só a ironia. João, diferentemente de Fernando, não era poeta, mas escriturário de banco - em comum, João e Fernando possuíam a fluência em inglês. Ventura ficou arrasado e voltou para o Brasil, onde morreu de morte matada e foi comido e vacuado por bicho-bicho e por gente-bicho. E, se foi comido, é porque foi matado. Ninguém ia achar morto e comer, mas sim matar e depois comer - desconfia-se. E devia estar com fome o bicho-bicho, pois bicho-bicho só mata pra matar a fome. Já a gente-bicho não se sabe, se foi um ritual antropofágico ou outra coisa. Nem se sabe quem comeu a sobra de quem ou se foi na broderagem o lance cabuloso e tétrico. 

 

Pobre Álvaro Ventura, o desventurado. Transou embaixo da cachoeira com Maria Aparecida e amou a lusa Marina Joaquina, mas terminou mal. Nunca saberemos o que foi que matou Álvaro Ventura? O homem virou adubo.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 27/02/2024
Alterado em 27/02/2024
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