Lendo matéria recentemente publicada no jornal Portal de Notícias, reforcei a convicção sobre algo que sabia desde a infância: que nasci na Colônia, não em Charqueadas. Sempre escrevi que por lá a gente considerava a Colônia como se fosse uma cidade e Charqueadas um município vizinho, tanto que se dizia "Vou lá em Charqueadas", e nunca "Vou no Centro da cidade".
Todavia, uma questão se coloca: De fato, nasci na Colônia ou no Rio Grande do Sul? Se a Colônia, na real, não era uma cidade, mas sim uma área de segurança do Estado do Rio Grande do Sul, logo, na verdade, nasci no Rio Grande do Sul, sem cidade natal? Tá, fiquei confuso agora. Charqueadense, coloneiro (era como a gente se autoproclamava na época, agora não sei) ou riograndense de nascimento? Mas bah, tchê, que baita confusão! E notem que uma pá de gente, assim como eu, nasceu na Colônia, de parteira, um bom número delas pelas mãos da saudosa Gecy Quadros.
Tudo isso me veio de supetão ao ler a matéria intitulada "A Colônia agora é de Charqueadas", de 19 de dezembro. Reproduzirei um trecho para vocês se inteirarem: "Nesta terça-feira (19/12), a Assembleia Legislativa gaúcha aprovou, por unanimidade, o Projeto de Lei PL 531 2023, do Executivo, que autoriza o Poder Executivo a doar imóvel ao Município de Charqueadas, na Região Carbonífera, transferindo a área do bairro Colônia para o Município. (...) Para o presidente da Associação dos Moradores da Colônia N’Ativa, Márcio Rosa, (...) — A partir do dia de hoje, os moradores do bairro Colônia podem gritar 'sou charqueadense', pois agora a área não é mais do Estado e sim do Município. (...) A partir do dia de hoje, Charqueadas ganha um novo bairro, oficialmente, a Colônia agora é de Charqueadas". Uma das grandes vantagens para as 400 famílias que hoje lá residem é a possibilidade de regularização de seus lotes.
Bom, tudo basicamente entendido, volto para minhas ruminações: Coloneiro, charqueadense ou riograndense? Bom, mas antes de mudar algo na minha certidão de nascimento, ainda tem mais um problema: nela consta "São Jerônimo" como minha cidade natal, eis que, na época, Charqueadas era distrito de SJ. Riograndense, jeronimense, charqueadense ou coloneiro?
Buenas, para não entrar numa profunda crise de identidade e não mais saber quem sou e da onde vim, resolvi deixar o coração falar. Coração, fala aí quem sou e da onde vim:
- João, tu é da Colônia, tu é coloneiro!
Verdade, Coração, tu sabe mais de mim que eu mesmo, conhece profundamente meus sentimentos mais interiores. Nunca deixarei de ser o Loquinho da Paineira, o Joãozinho filho do cabo Nery e da professora Ivone (foto abaixo, na frente da casa onde nasci), neto do Adolfo e da Emília, sobrinho da Dione, do Glênio, da Nara e do Ivã - todos coloneiros de pai e mae -, que brincava na beira do rio, no Casarão (Solar dos Barcellos, foto acima, posteriormente demolido), no Americano e estudava no antigo prédio Ramiro, ao lado da PEJ, ia na igreja do Padre Vilmo, na terreira do seu Caldeira e era amigo do Gó - filho da Aida e do Caroço.
Sei da parte legal, de qual é oficialmente minha cidade natal? Claro que sei. Mas isso importa? Não, importa o coração, a afetividade. Por mais que mude ou me mude, nunca deixarei de ser originalmente o guri que corria descalço pelas ruas de chão batido da Colônia, dando tantas voltas ao redor da paineira até o saudoso cabo Renatão, marido da professora Liliane e genro da dona Alzira, dar-me o desairoso apelido acima.
Quanta gente, quantos momentos e quantas coisas guardadas no profundo da alma, inesquecíveis. Coloneiro! Parabéns conterrâneos pela conquista na Assembléia Legislativa.