"A paz invadiu o meu coração"

Não dá pra viver bem sem ter paz. Deitar no travesseiro e esperar de boa o sono chegar, abrir os olhos pela manhã e ver o sol bater na janela do quarto com a mente limpa e despreocupada: isso pra mim é ter paz.

Paz é algo que a gente constrói, vem das nossas escolhas e decisões. Claro, o entorno determina muito, pois se tu estiver morando hoje em Gaza ou na Ucrânia, daí fica difícil. Mas, como estamos no Brasil, a paz é algo mais possível, desde que não estejamos muito doentes, desempregados ou residindo em zonas de criminalidade acentuada.

De nossas decisões pessoais, amorosas, profissionais, financeiras e em outros aspectos da vida, deriva a paz que teremos. Fala-se socialmente, inclusive nas escolas, em se construir uma cultura da paz, mas ela igualmente é uma decisão individual. Exemplo: o sujeito dá uns passos maiores do que as pernas e entra numa roda-viva de dificuldades financeiras que amarram em muito o seu cotidiano. Isso tira totalmente a paz da pessoa e é algo que muito ocorre nos dias de hoje, o tal do endividamento crônico. Tem gente, inclusive, que chega a falir! Já vi isso acontecer. Nunca mais se apruma, tamanho o endividamento que supera em muito a sua capacidade inclusive de negociá-lo.

Esse é apenas um aspecto, muito comum. Existem outros, como comprar briga com pessoas erradas por motivos fúteis, o que também pode levar embora nossa paz. Também pode dar muita dor de cabeça entrar na canoa furada de certas ideias que rolam por aí. Tipo aquela de "Ah, tu tem de sair da tua zona de conforto!". Como assim, cara pálida? Gente, tem de se ter muito cuidado com isso, principalmente depois de uma certa idade, onde as oportunidades já não são tantas e uma escolha errada pode ser fatal: passarinho que sai do ninho pra catar no telhado da casa, onde um gato está à espreita...

Tu levas anos de empenho, dedicação e sacrifícios para construir a tua zona de conforto e daí, sem mais nem menos, por um tédio bobo, resolve mudar tudo na vida pra ver se melhora. Iiiiihhhh... Se a coisa tá ruim, se tu tá acomodado numa zona de falso conforto ou de desconforto, sai dela, mas não esqueças do ditado: em time que tá ganhando, não se mexe. Olha o Botafogo aí no Brasileiro desse ano... Ou então o Raul Seixas... Ele cantou em Ouro de Tolo: "Eu é que não me sento No trono de um apartamento Com a boca escancarada, cheia de dentes Esperando a morte chegar". Tri de cantar isso, mas na prática da vida, como fica?

Uma vez ouvi numa entrevista sobre ele um dentista, que fez sua chapa já no final da vida do cantor, dizer que Raulzito estava deprimido por estar banguela e que a chapa aumentou em muito sua auto estima. Pois então, sim, o Raul não tinha grana pra fazer uma chapa! O Raul! Não lembro de cabeça se foi o Marcelo Nova do Camisa de Vênus que pagou ou se foi o dentista que fez de graça por ser fã e amigo de uma pessoa próxima do Raul. Se vocês pesquisarem devem achar isso no Google, eu gosto de "escrever de cabeça", mesmo correndo perigo.

Viram como é a coisa no duro da vida? Eu, do meu lado, mesmo aprendendo a ser louco, prefiro estar com a boca escancarada e cheia de dentes sentado no trono do lar, com a esposa, a filha, os amigos, os gatos, a bebê e os parentes na volta, vivendo a vida, pois a única coisa certa é que a morte chegará. "Sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu", como o Zeca.

E, para isso, é mister ter paz, estar em paz. A paz é uma construção social e individual. Tá, o texto ficou longo, já é bastante reflexão para um sexta-feira, não é mesmo? Que a paz esteja com vocês e que invada seus corações, como na canção do Gil.

Um bom final de semana e Terceiro Domingo do Advento de Natal - o Gaudette - para todos. Cuidem-se, vacinem-se, vivam em paz e fiquem com Deus.