João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Dia de chuva e de finados

 

Chuva caindo ontem, novo ciclone extra tropical na Província de São Pedro. Bom, inventaram capa e guarda-chuva pra que, né? Vamos no cemitério assim mesmo, Dia de Finados, mostrar nem que seja o nosso olhar e lembrar dos finados, seja por eles, seja pela gente mesmo ou seja pelos dois.

 

Vendo a água cair sobre a lápide recente de meus pais, dou-me conta que, esticando o olho à esquerda para a outra fila de sepulturas, vejo que está a de minha parteira. Pois é, as duas mulheres que literalmente me colocaram no mundo são vizinhas no "bairro" Júlio Rosa, na "Cidade dos Pés-juntos" - como dizia meu pai, atualmente (e eternamente) "residente" nela - ou o "Lugar onde Véve os Morto", como falava alguém que esqueci o nome e não recordo se ainda "mora" por aqui ou "mora" lá também. Igualmente moraram na mesma vila em vida, minha mãe e minha parteira.

 

Sigo por túmulos de amigos, parentes e conhecidos, pessoas com as quais convivi, conversei, partilhei momentos e coisas ao longo das diversas fases de minha vida. Meu sogro vive repetindo um ditado: "O Diabo não é diabo porque é o Diabo, mas é diabo porque é velho". Ou seja, a experiência conta muito. Quando era jovem ia ao cemitério ver o túmulo de meus avós maternos, então os únicos "residentes" da família no local, com minha mãe e minha tia. Ontem fui sozinho, pois a mãe tá lá e a tia tá muito idosa pra ir. Os novos da minha casa não foram comigo, o que significa que, quando chegar a minha vez de me "mudar", talvez não receba visitas na "última morada", que pode até ser essa mesmo, sei lá. Bom, esse é o tipo de coisa pra se pensar num Dia de Finados, não é mesmo?

 

Entretanto, o que eu queria enfim dizer ao mencionar o ditado do meu sogro é que tem coisas que só com a idade a gente passa a compreender plenamente, como esse lance de finados. Ia no cemitério antes e não conhecia ninguém por lá, mas muita gente na rua; agora, a esta altura do campeonato, a coisa tá empatada: já não conheço todo mundo na rua, mas bastante gente no Júlio Rosa. Como ao morrer as pessoas ficam eternamente com a mesma cara e idade do último dia, tem uns que tu já está mais velho do que eles, passado o tempo, eis que faleceram ainda relativamente jovens. Dá um estranhamento isso, tu já ser mais velho que caras que eram mais velhos que tu.

 

Quem morre jovem conquista a eterna juventude, quem parte idoso se tornará um ancião até o final dos tempos. Prefiro a última opção, claro, assim como vocês também, tenho certeza. Não nascemos pra James Dean, Marilyn Monroe, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Cazuza, Renato Russo, etc, mas sim para matusaléns. Esse mundo, apesar dos pesares, é bom e belo, pois até a chuva que cai é bonita e carinhosa e é mui bueno sentir tudo isso. Nem os caras do The Who, que cantavam em 1966 em My Generation que queriam morrer antes de ficar velhos, aderiram à própria tese. A atriz e poeta Bruna Lombardi também prefere ficar bem velinha, mesmo que à custa da perda da singular beleza.

 

Em 40 e poucos minutos visito todo o pessoal, dou um alô e um "fica em paz ai com Deus" - não rezo, acendo vela ou coloco flor em cemitério - pra eles e volto pra casa. E era isso.

 

Um bom final de semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, usem máscara nos locais indicados, vivam e fiquem com Deus.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 03/11/2023
Alterado em 03/11/2023
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