João Adolfo Guerreiro
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Furto na biblioteca: revolta, tristeza e nojo

 

Dá-me revolta, tristeza e nojo ver o que aconteceu com a Biblioteca Pública Municipal de Charqueadas na semana passada, principalmente por ser um cidadão charqueadense contribuinte, eleitor e leitor que frequenta aquele equipamento cultural público. Entraram lá na calada da noite preta e furtaram livros, gibis e DVDs. Descobri o ocorrido na sexta-feira ao início da tarde, quando, como de costume, fui lá. Aliás, que dia triste para nossa comunidade a sexta-feira passada: morte do Luizão e arrombamento da biblioteca. Lamentável.

 

Mais precisamente, furtaram o acervo, assaltaram a geladeira e devoraram a comida das funcionárias, fumaram em cima do sofá e usaram o banheiro para, pelo menos, fazerem o número dois. Poderiam ter lavado a louça, mas deixaram os potes e talheres sujos dentro da lixeira. Pelo menos deram a descarga e colocaram o papel na cesta. Tem uns que fazem suas necessidades no piso e ainda deixam camisinhas pelo chão. Esses, pelo menos, não eram porcos nem libidinosos.

 

Inicialmente, dá pra ver que os ladrões entendiam do escrito, pois, dentre outros itens, levaram coisas fáceis de vender em sebos e na internet: Tex Willer (se o ranger os pega, dá-lhes uma surra!), Tio Patinhas (fácil, pois a biblioteca é o exato contrário de uma caixa forte), Homem Aranha (nem precisaram usar a teia, pois o prédio é baixo), Marx (ladrões revolucionários?), Chico Xavier (ladrões kardecistas!), Dante (não temem o seu inferno) e Game of Thrones. Sim, livro e gibi dão dinheiro, pessoal.

 

E o que mais incomoda é que não é a primeira vez que arrombam a biblioteca e, com certeza, não será a última, pois, continuando a mesma situação, permanecerá facílimo repetir. O fato novo é que dessa vez a motivação econômica foi o acervo, não o computador. Algo tipo ladro-empreendedorismo cultural: furtar livros e gibis para vender, gerando emprego e renda cultural - viva a ladro iniciativa. E é barbada fazer, eis que o abandono e o descaso para com o prédio (não bastam as goteiras e um dos banheiros entupido) por parte do poder público serve como estímulo e facilitador da coisa. Não tem vigilância ou segurança alguma lá, é só entrar e fazer a ladro feira do livro, um lalau literário. Que lástima, pois é um prédio muito bom, com um acervo legal, bibliotecária e funcionárias comprometidas.

 

Ah, queria ver eles fazerem isso na Câmara de Vereadores, no Gabinete do Prefeito ou na Secretaria da Cultura! Duvido! Nesses locais tem vigia! Ah, se o prédio tivesse algum tipo de vigilância, duvido que o furto ocorreria!

 

O grande problema é que isso desacredita a biblioteca, que depende exclusivamente de doações para incrementar o acervo, visto que, também, não possui verba para aquisição de livros. Quem vai doar coisa boa, sabendo que os caras vão roubar? Esses dias mesmo estava por lá e vi chegar uma doação de volumes de uma ex-secretária da Cultura, já falecida. Os familiares doam a fim de socializar os bens literários do ente querido pra comunidade, não para os gatunos venderem. O problema é que o descaso joga a favor dos ladrões.

 

Revolta, entristece e dá nojo ver um patrimônio nosso, que serve principalmente às pessoas que não tem como investir seu dinheiro em cultura, tão negligenciado, por um lado, e dilapidado, por outro. Sem cultura não há estrutura.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 10/10/2023
Alterado em 10/10/2023
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