Luizão fará uma falta enorme
Charqueadas e região Carbonífera acordaram esta amanhã com a notícia do falecimento de Jorge "Luizão" Carvalho, presidente do Sindimetal de Charqueadas. Uma perda gigantesca para a categoria metalúrgica, um grande defensor da classe trabalhadora que se vai ainda em idade ativa. Fará falta, muita falta, para os familiares e amigos e também para aqueles cuja sua liderança era uma referência - e são muitos.
Conheci o Luizão no início de 1990, no mesmo Sindimetal. Cursava Sociologia na Unisinos e o sindicalista Paulo "Guto" Costa me convidou para trabalhar com ele lá, no setor de Imprensa e Divulgação, durante a gestão do presidente Irani Palma. Luizão era o diretor de Formação Política e eu o ajudava de vez em quando. Fizemos amizade. Bons tempos, excelentes tempos de militância política e sindical comprometida e compromissada com os interesses da classe trabalhadora. Saí do sindicato, o Guto concorreu a presidente pela situação e o Luizão foi pra oposição, integrando a chapa encabeçada por José Abrahão, vencedora do pleito. Depois, muito respeitado na base, no chão de fábrica, elegeu-se presidente em 2002, sendo reeleito em outras seis oportunidades, a última delas em agosto de 2020 (foto abaixo) para o mandato que termina esse mês. Estava doente a um bom tempo, mas, de qualquer forma, cumpriu até o final seu compromisso com os metalúrgicos, que durou 21 anos.
Nada disso foi à toa, Luizão era um trabalhador assalariado que possuía tanto consciência de classe quanto consciência política, logo sabia o rumo certo da luta e nunca se desviou pelos caminhos da lida classista e sindical, o que consolidou sua liderança. É fruto do mesmo período histórico e da mesma geração de onde surgiram os metalúrgicos Lula e Paulo Paim e o bancário Olívio Dutra, dos tempos da criação da Central Única dos Trabalhadores - CUT. Um cara de esquerda que optou por não ocupar espaço eletivo na esfera política, embora estivesse por vezes cotado pelos partidos para tal e com plena viabilidade eleitoral.
Um cara único de nossa cidade e região, que fará, repito, uma falta gigantesca, bem como o também metalúrgico Afre Rodrigues e os mineiros Larri Lopes e Oniro Camilo fazem, sobretudo nesse momento de hegemonia neoliberal e de privatizações, desmonte da saúde e educação públicas, terceirização, reformas trabalhista e previdenciária e ante uma grande e inexorável diminuição da empregabilidade, decorrente do desemprego estrutural tecnológico que grassa, decorrente da revolução digital. Líderes como o Luizão são imprescindíveis a fim de conscientizar os novos trabalhadores assalariados acerca dessa situação, tirando-os do domínio ideológico neoliberal, que faz alguns defenderem a corda em volta de seus próprios pescoços.
Luizão tinha consciência dessa realidade, sendo que, quando de sua última eleição sindical, disse para o Portal: "O que a gente vislumbra para os próximos três anos é a mesma linha de trabalho. Desde que assumimos, em 2002, tivemos enfrentamentos históricos. (...) A gente está sempre preparado porque sabe que as dificuldades vão ser cada vez maiores, muito em função da pandemia, da quebradeira (de empresas), mas também tem a questão da exploração econômica, da insensibilidade dos grandes empresários que o sindicato sempre se depara" (Jornal Portal de Notícias, 05agosto2020). O último grande enfrentamento foi em setembro de 2021, quando, junto com outros sete companheiros (foto acima), ocupou por duas semanas a Gerdau, na luta contra a alteração da jornada de trabalho determinada de forma unilateral, exigindo que a empresa fosse para a mesa de negociação com os trabalhadores.
Valeu por tudo, Luizão. Tua história e teu legado permanecerão para nós, guiando-nos. Tua vida não foi em vão, tua luta deixou exemplo.
Um bom final de semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, vivam e fiquem com Deus.