No domingo participei do bate-papo "Machado de Assis em Quadrinhos", na Gibiteca da Biblioteca Pública do Estado, mais precisamente sobre a edição, já em processo de finalização para impressão, de HQ adaptando três contos de Assis pelo Tesla Studio, iniciativa dos desenhistas e roteiristas Adan Marini, Frank Tartarus e Wagner Carsten.
Dentre sete contos que os mesmos definiram como possibilidade para a empreitada, foram escolhidos Pai contra mãe, O espelho e A igreja do Diabo, os dois primeiros, com temática sobre a escravidão, com desenhos de época, enquanto o último foi atualizado para nossos dias. Entretanto, duas coisas me chamaram atenção durante a conversa, referentes a decisões editoriais: primeiro, a alteração do título de A igreja do Diabo para a HQ e o motivo de um outro conto ser deixado de lado.
O motivo informado para a troca de nome de A igreja do Diabo para Nova Igreja foi que Caxias do Sul, cidade onde é sediado o Tesla, é muito conservadora, o que poderia trazer dificuldade para a captação de recursos. Na mesma direção, foi dito que um outro conto, ainda mais impactante que este, foi preterido pelo mesmo motivo. Vejam só, contos perfeitamente publicáveis no final do século XIX, em 2023 tiveram de ser retocados ou colocados na geladeira.
Parece paradoxal isso, não é mesmo? O esperado é que tivéssemos mais liberdade editorial nos dias atuais do que naqueles tempos. Ou seja, a preocupação que Machado de Assis não teve, os editores da HQ tiveram, por bom senso. Sinal dos tempos? Com absoluta certeza! Claro que isso sugere uma boa discussão, mas não a farei aqui. Acho melhor deixar para a noite de 16 de agosto, na Biblioteca Vera Gauss, em Charqueadas.