Muito ainda a aprender sobre a vida
No quarto andar do hospital, o vento soprava muito forte, agitando a copa das árvores e zunindo nas janelas, anunciando o temporal que viria a seguir. Dentro do quarto, junto com outros dois pacientes, o octogenário alquebrado estava em seu leito, sendo atendido pelas atenciosas enfermeiras, muito alegres e conversadeiras.
Era horário da troca dos cuidadores, parentes que se revezavam para passar o dia com ele, especificamente o filho e o marido da sobrinha, que observavam aquele mexe-mexe das profissionais com o velho e as risadinhas e deboches de parte a parte.
- Tá bom? Tá gostando de nós aqui te tocando? - perguntou uma delas, uma loira de olhos azuis e cabelos longos, já saindo dos quarenta e entrando nos cinquenta.
- Tô adorando. Tá tão bom ser atendido por uma mulher tão bela e educada, que até fico pensando em coisas que um homem na minha idade e na minha situação já nem deveria mais estar mais pensando...
Todos riem, menos o filho, que fica um pouco constrangido com a sinceridade do pai e intervém:
- Ih, desculpa, senhora, meu pai está meio assanhado hoje.
- Que desculpa o que, guri, não te mete aqui na nossa conversa - cortou a enfermeira.
- Não dá bola pra esse daí, ele não sabe ainda muita coisa sobre a vida - replicou o pai.
-É mesmo - ela concorda.
Mais risadas pelo quarto, agora ecoada pelos outros pacientes e acompanhantes.
- Ih, tá bom, nem falo mais nada, vou me recolher aqui na minha ignorância.
- Isso, te aquieta.
- Isso, obedece teu pai.
Sai do quarto com o outro acompanhante, que está apressado pra ir embora, antes do temporal chegar com tudo.
- É, hoje te deram uma lição ali, eh eh eh eh eh.
- Verdade. Vivendo e aprendendo.
Um bom final de semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, vivam e fiquem com Deus.