João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos

No calor do inverno

 

As fogueiras de São João acenderam no sábado com tamanho fulgor que aqueceram os dias até ontem e ainda na manhã de hoje, mesmo com os presságios de mudança no tempo. Já é inverno, mas deu pra cantar aquela do Camisa de Vênus, "esse calor insuportável não abranda o frio da alma". O santo mostrou sua força e seu calor, o calor do inverno.

 

Tá, a meteorologia explica tudo de maneira diferente e precisa, entretanto sem a poesia transcendente da explicação acima. Literatura 1x1 Ciência: "Ela preferia seguir as criações aéreas dos poetas, e nos majestosos e maravilhosos cenários que rodeavam nossa casa na Suíça - as formas sublimes das montanhas, as mudanças de estação, a tempestade e a bonança, o silêncio do inverno e a vida e a turbulência dos verões alpinos - encontrava amplo espaço para admiração e deleite. Enquanto a minha companheira contemplava com o espírito sério e satisfeito a aparência magnífica das coisas, eu me entusiasmava com a investigação de suas causas. O mundo era para mim um segredo que eu desejava adivinhar... A curiosidade, a séria pesquisa para aprender as leis secretas da natureza, a satisfação próxima do êxtase quando elas se me revelavam são algumas das primeiras sensações de que consigo lembrar-me" - Mary Shelley, Frankenstein, 1818.

 

O fato é que no calor do inverno dá pra andar de bicicleta pelas ruas da cidade vestindo apenas calção e camiseta. Pedalando contra o vento, sem lenço e sem documento, num sol de quase julho, eu vou. Dá mesmo pra radicalizar e, na minha bicicleta, peito nu cabelo ao vento e o sol quarando nossas roupas no varal. No calor do inverno - um pedaço da magia da vida - constatamos que quase tudo é possível, pois há o impossível, que é objeto dos milagres e, portanto, está além da Literatura e da Ciência. No calor do inverno estamos regidos pelo signo do possível. No calor do inverno estamos como no sol da meia-noite ou na insustentável leveza do ser, isto é, paradoxais. É o sol do inverno queimando no peito, pois nasce um novo desejo em meu coração, uma nova canção rola no vento e me faz sentir a magia do amor na palma da mão. Até as andorinhas voltaram e eu também voltei pras ruas de Charqueadas.

 

O caminho para a felicidade é saber quem se é e o que se quer no calor do inverno. Ser feliz, no teu colo dormir e depois acordar sendo o seu colorido brinquedo de papel machê. Graças por estar vivo no calor do inverno. Valeu, São João, por acender a fogueira do meu coração.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 28/06/2023
Alterado em 28/06/2023
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