João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos

Lá onde a coruja não dormiu ontem à noite

 

Ir de excursão do consulado ver jogos do Grêmio na Arena não tem preço. Até tem, 30 pilas, mas é ida e volta, barato. Agora, o aquecimento que a batucada no fundo do busão proporciona merece couvert futebolístico! Aquelas canções recheadas de palavrões e fanfarronices, mas contagiantes e legais, nos deixam preparados para estar com o Grêmio, pro que der e vier. Dois Reis de Copas em campo, Grêmio x Cruzeiro MG, 11 títulos da Copa do Brasil, um mata-mata simbólico merecido para dois multicampeões recém vindos da B, tudo azul sob a grama verde e na noite portoalegrense. Os deuses do futebol sabem o que fazem.

 

Frio de outono e trinta mil pessoas estão pelas redondezas, pagando ingresso bem acima dos trintinhas do busão e sem o couvert, para ver o Tricolosso. É muito amor envolvido, não há outra explicação. É tri o pré-jogo na volta da Arena, a gente vê coisas legais como a galera azul sorrindo e não tão legais, como espetinho a 15 pilas. Se fosse Dia das Mães, mandaria o cara roubar da mãe dele. Na chegada vejo o Mano, de São Jerônimo, com umas crianças a tiracolo. Desci do busão e o perdi de vista, pena. Cara tri gente fina, o Mano.

 

Passo na revista, subo pra Arena e vou dar uma olhada na GrêmioMania. Uma camisa de pano do Hexa Gaúcho por 80 pilas, vou comprar. Cadê o meu cartão? Puta, esqueci em casa! Ainda bem que o $ e o cartão de entrada estão comigo. Encontro o Marcelo Noronha, da Corsan de Charqueadas. Ele veio no busão do consulado, mas não nos vimos lá. Decidimos ver o jogo juntos, então, era pra ser da gente se encontrar. E vamos nós, via portão C, pro último anel, seção 407, cadeiras na fila R, 12 e 13, bem no meio de campo, ótima vista. O primeiro tempo foi uma bosta para o Grêmio, não conseguiu jogar quase. Não fosse pelo Suárez, que deu uma puxeta de gênio na trave e um chute de primeira do segundo pau, que passou rente ao poste, seria $ perdido. O gol do Cruzeiro foi muito legal, o cara acordou a coruja lá no lugar onde ela dorme, sem chance pro GG de Chapecó. Se é pra finalizar o primeiro tempo com teu time perdendo, que seja com um golaço do adversário, né. Aliás, o gol mais lindo que vi na Arena não foi do Grêmio, mas do Atlético Mineiro: o equatoriano Cazares, do meio de campo, encobriu o Grohe na final da Copa do Brasil de 2016, quando o Tricolor foi penta, 1x1. O gol do Grêmio também foi de um equatoriano, Bolaños.

 

Ainda na primeira etapa, o 9 do Cruzeiro - o mesmo que fez o golaço de fora da área - perdeu um gol feito, com gol aberto, GG batido, numa intervenção de craque de Kannemann, evitando o 2x0. Eu e Marcelo só trocamos olhares, de dois gremistas assustados que se entendem sem palavras. Mas bah, tchê, tá ruim a coisa, uai. No intervalo, fui comprar um cachorro-quente. Tava com fome, fazer o que, vamos nessa. Putz, 26 pilas!!! Se fosse Dia das Mães... Tive que comprar, mas o cara foi "legal" comigo, fez por 25 porque tava sem troco - dei um peixe pra ele, não alivio pra careiros. Uma Coca Zero por oito pilas - a guria do espaço queria me cobrar 12. "Ai, desculpa senhor, me enganei" - levou um macaco por isso. Esbarro no Mano de SJ na fila da Coca. Era pra ser da gente se encontrar. "Vim com três crianças, sou sócio lá no outro lado, mas tive de pagar ingresso aqui porque lá não tinha mais". Ah, mas vale a pena, adoro trazer os pequenos da família para o futebol, também. Grande Mano.

 

No segundo tempo o Grêmio resolveu jogar e Bitelo - que jogador! -, tinha de ser ele, encontrou Suárez - tinha que ser ele também - na entrada da área e o Pistoleiro, de três dedos - achei na hora que tinha sido de bico, como sou tolo -, acordou novamente a coruja, na mesma goleira e no mesmo ângulo. Dane-se a rapinenta, né. O gol do 9 foi bonito, mandando com o lado de dentro de pé, mas os três dedos do uruguaio foram de gênio, ainda mais estando apertado pela marcação dos zagueiros mineiros. Obra de arte, valeu o busão e todos os preços altos da noite, ainda sobrando troco.

 

Termina o jogo, vamos embora felizes, eu e o Marcelo, pelos golaços. Queríamos uma vitória, tá, mas foi tri assim mesmo. Ele compra umas pipocas num baldinho legal do Kannemann, 32 pilas com a mineral junto! Oferece-me. "Não, prefiro a doce, mas..." Trocamos olhares de dois diabéticos que se entendem sem palavras. Um chopp por 16 pilas ainda na saída da Arena. Já no barzinho da rua, esperando o busão do consulado, a fome canalha me instiga novamente. Lá vamos nós. Uma jovem baixinha e ativa está atendendo. No detalhe pego o último espetinho de frango, por 8 pilas, antes de outro cara. "Tem Coca Zero?". "Ah, essa eu vou ficar te devendo, amor!". Pelos 8 pilas e pelo amor, escapou da onça e levou uma arara, a simpática. Fui embora com minha galinha na boca e uma tartaruga no bolso. Penso que o 1x1 contra um time mineiro na Arena na Copa do Brasil é um bom agouro, que nem aquele de 2016. Os deuses do futebol sabem o que fazem.

 

Eu e o Marcelo dormimos na volta. Domingo tem Grenal. Ah, já ia esquecendo: o outro mineiro, o verde, meteu 2x0 nos colorados, ou seja, o sono da coruja não foi interrompido na goleira do América. Os deuses do futebol sabem o que fazem.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 18/05/2023
Alterado em 18/05/2023
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