João Adolfo Guerreiro
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Aquele maio de 1968 na França...

 

Após 55 anos, o que ainda pode motivar a se falar do Maio de 1968 na França e do grande movimento de revolta estudantil e trabalhadora que influenciou todo o Ocidente pelas décadas seguintes, num divisor de águas? Penso que duas coisas, escrevendo de forma leve numa crônica, sem pretensões analíticas maiores: primeiro, o recrudescimento da extrema-direita no mundo, numa nova onda conservadora; segundo, o desemprego estrutural tecnológico - DET - que grassa e se amplia com a Inteligência Artificial - IA.

 

Todos os valores do Maio Francês indicavam para um mundo diferente do que vivemos hoje, com guerras e precarização do trabalho ainda na ordem do dia. No dia 2 de maio de 1968 os estudantes que saíram às ruas em Paris e pararam as universidades e a capital francesa buscavam uma liberdade tanto anticapitalista quanto anticomunista, que desaguaria numa esquerda democrática e na força verde - a causa ambiental - que resistem até nossos dias, essas mesmas que são chamadas equivocada e cinicamente pela extrema-direita de comunistas, numa retórica doida onde até o presidente estadunidense Biden vira comuna - vejam só o tamanho do destino. O ultraliberalismo conservador da extrema-direita, renascida das cinzas do totalitarismo do século XX, novamente põe em cheque a democracia e o meio ambiente.

 

Quando no dia 13 de maio as centrais sindicais iniciaram uma greve geral em apoio aos estudantes, levando para o movimento suas pautas classistas, era a consolidação de um movimento social e operário que rechaçaria a bipolaridade capitalismo x comunismo, visando uma politica sobre outros parâmetros. Não é a toa que a nova onda conservadora de direita renova o discurso do comunismo enquanto farsa politica, pois é difícil combater e contrapor uma esquerda democrática sem assustar as pessoas com tal fantasma falcatrua, ou seja, sem falsear a realidade a extrema-direita não tem discurso, como vemos hoje no Brasil e nos EUA, para citar dois países onde esses, no poder, deixaram descalabros como os números tenebrosos de óbitos na pandemia, só para citar um exemplo da natureza de suas necropoliticas. Por enquanto, ainda bem, foram retirados democraticamente dos governos.

 

Aliada a isso temos a precarização cada vez maior do trabalho assalariado e até mesmo uma fragilização crescente da necessidade da força de trabalho humana no processo de produção capitalista. De classe trabalhadora para classe de inúteis parece ser a sina de bilhões pelo planeta, decorrência do DET agora ampliado e acelerado pelo uso da IA pelos detentores dos meios de produção. O que será de toda essa gente? Eis a pergunta que intriga e assusta os economistas, esses mesmos uma das profissões que correm perigo com a IA. Os trabalhadores de hoje na França, não por caso, protestam contra a Reforma da Previdência do liberal de centro-direita Macron, que venceu nas últimas eleições Le Pen, candidata da crescente extrema-direita local. Sintomático tudo isso.

 

Do Maio 1968 pra cá, EUA e Europa (OTAN) e China (falemos só dos maiores) permanecem iguais, só a Rússia é que saiu do comunismo para um capitalismo de oligarcas econômicos e se engalfinha com a OTAN pela Ucrânia, praticamente reavivando a Guerra Fria, agora numa inacreditável versão capitalistas x capitalistas. Quem imaginaria isso em 1968? Ninguém! Por outro lado, todos esses são parceiros de um modelo econômico voraz, que leva o planeta à mudanças temerárias do clima: a briga, portanto, é de bugios, pode se constatar.

 

Logo, o espírito do Maio Francês 1968 ainda vive e pode conformar uma utopia de liberdade no mundo de hoje, mostrando que um outro mundo (ainda) é possível e necessário. Os estudantes e os operários não marcharam em vão em naquele ano, pois seu legado mantém a valia.

 

Um bom final de semana e Dia das Mães para todos. Cuidem-se, vacinem-se, vivam e fiquem com Deus.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 12/05/2023
Alterado em 12/05/2023
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