Charqueadas - Quarta-feira, por volta das 07h30min, estou em frente ao restaurante Muralha, na esquina da rótula, no início da manhã, esperando um parente e vejo um carro cinza dar a ré no estacionamento da nova farmácia São João e atingir o totem em frente ao mesmo, inclinando-o com a batida. Quinta-feira, 23h30min, caminho pela mesmo local e uma viatura da Brigada Militar me aborda. Duas batidas no mesmo lugar! Iniciemos pelo final.
Golaço do Bitelo de fora da área, tá jogando muito esse guri. Embalado por dois latões de Amstel e pela percussão dos Borrachos de Charqueadas, saio um pouco antes do Consulado do Grêmio feliz pela vitória, caminhando pela 1º de Maio, deserta na noite fria de ontem. Trajado com a jaqueta corta-vento do consulado, subo o capuz para proteger as orelhas do vento, por certo, colorado. E desço apreciando as vitrines das lojas à esquerda da avenida. Já nas últimas lojas, percebo um carro em atitude suspeita, faróis altos, trafegando muito vagarosamente, quase parando. Fico em alerta, pois a cidade anda meio turbulenta por esses dias, com assaltos, arrombamentos e o temor da sociedade em virtude da segurança nas escolas.
"Não deve ser ladrão, o cara não estaria assaltando de carro a essa hora na 1º de Maio. Tudo ok, mas se ele se coçar de dentro daquele carro vai descobrir que eu sou um Kinder ovo tricolor com uma surpresa desagradável dentro". Para e eu ando na sua direção e percebo que é um veículo de vigilância privada. Ok, tri. Trocamos um fixo olhar sem cumprimentos e tenho a intuição: "Ele vai chamar a brigada". Dito e feito. Quando estou já próximo à calçada da São João vejo a VTR da BM vir pelo outro lado e percebo, com a visão periférica, ela dobrar repentinamente e vir para a calçada. Resolvo não parar, a não ser que me abordem. Não acho boa ideia parar ou correr quando a polícia está por perto, pois sempre gera desconfiança.
- Para e coloca as mãos na cabeça! - ordena um dos três policiais que desceram.
- Ué, por quê? - questiono.
Fiz errado, claro, pois numa abordagem devemos se submeter à legítima autoridade policial em cumprimento de seu dever constitucional e colaborar, mas o fato é que o cidadão de consciência limpa não gosta de levar uma batida de graça, sente-se injustiçado. Entretanto, para o policial, um suspeito é um suspeito, ele não sabe o que encontrou pelo caminho no exercício de seu dever. Ninguém gosta de ser abordado, a gente só acha bom quando é com os outros. Tenho o reflexo imediato de levar as mãos ao capuz e baixá-lo, para que os brigadianos vissem o meu rosto. Um deles me conhecia de outros carnavais e sabia que o meu samba enredo era do bem. Coisa boa ter policias veteranos da cidade em ronda pela noite, facilita muito para o cidadão que está de boa e na paz. De qualquer maneira, estava com os documentos todos comigo, como sempre, e bem próximo à minha residência, circulava pela minha banda.
Conversei com o pessoal, eles estavam abordando suspeitos devido à situação atual e, mesmo com a jaqueta do Consulado do Grêmio, um encapuzado olhando lojas tarde da noite é um suspeito em potencial. Na verdade fico mais tranquilo em saber que os vigilantes e brigadianos estão fazendo a parte deles pela segurança da comunidade. Continuando o caminho observo que o totem não está mais na frente da farmácia. Daí recordo do acontecido no dia anterior. Após o choque, três mulheres desceram do carro e olharam o para-choques traseiro. Uma delas espragueja algo que não compreendo. Embarcam no veículo e saem dali, sem ligar para o totem abalado e, tampouco, vi funcionário do estabelecimento vir conferir o ocorrido.
As pessoas, via de regra, em determinadas situações não fazem o que deveriam. O remédio é a proteção do santo: rogai por nós, São João. Ah, e não esqueça que eu nasci no teu dia. Aliás, creio que não foi sorte o PM me reconhecer, mas sim ajuda do Batista.
Um bom final de semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, vivam e fiquem com Deus.